Transformação digital sob a ótica do mobile

Quinta geração de redes móveis acelera transformação de diversas indústrias, impulsiona Internet das Coisas (IoT) e impacta profundamente a vida das pessoas e os negócios das empresas

Elas já fazem parte do cotidiano do consumidor: as tecnologias preditivas, a Inteligência Artificial e o Machine Learning são algumas das ferramentas que dirigem as transformações que o usuário de dispositivos móveis vivencia hoje. O 5G e a IoT prometem potencializar esse universo e ir muito além das experiências pessoais – na agricultura, na indústria e nas grandes cidades, a promessa é de revolução. “Para realmente transformar a nossa vida, a Inteligência Artificial precisa de ultraconectividade e alta velocidade”, afirma Mats Granryd, diretor geral da GSMA (Global System for Mobile Communications Association).

A economia mobile hoje gera 3,6 trilhões de dólares anualmente, o equivalente a 4,5% do PIB mundial – a estimativa é que esse valor cresça exponencialmente nos próximos cinco anos.

“O tempo de planejar já passou. Agora estamos em modo de execução”, afirma Marie Ehrling, presidente do conselho da operadora Telia e da Securitas. “O sucesso ou fracasso de uma empresa será determinado por sua agilidade na digitalização de seus negócios”, complementa.

Apesar das particularidades de cada setor, todos têm algo em comum – a mudança de um comportamento reativo para um preditivo. Os casos de sucesso estão por toda a indústria mobile. A empresa de tecnologia Continental criou um software que prevê quando o sinal de telefonia ou internet irá se deteriorar, oferecendo opções otimizadas para o cliente. A MJN Neuroserveis desenvolveu um dispositivo que avisa ao portador de epilepsia quando ele terá uma convulsão. Ambos são exemplos de antecipação das necessidades reais do consumidor, o que pode garantir a sobrevivência do negócio no mercado.

Com o 5G, a Internet das Coisas finalmente chegará ao seu potencial máximo. As casas inteligentes se tornarão enfim realidade, acessível e palpável para o consumidor médio.

Com a IoT, chegam todas as possibilidades de personalização e comunicação direta com um usuário mais exigente e saturado de conteúdo indesejado. As economias emergentes e setores da sociedade que não tinham acesso a redes e dispositivos ganham mais voz e conectividade, no que se revela o início de um processo de democratização digital que vai ganhar escopo e intensidade na era do 5G.

As operadoras de telefonia e a indústria de eletrônicos, junto com organizações internacionais, estão comprometidas em promover acessibilidade e ferramentas para as regiões mais isoladas do planeta – seja aumentando o alcance das redes para que a IoT chegue até zonas rurais, seja implementando wi-fi emergencial em campos de refugiados e áreas afetadas por desastres naturais.

A internet se reposiciona como tecnologia e passa a ser ferramenta para necessidades básicas e urgentes dos seres humanos, com papel importante para desenvolvimento econômico e democratização de informações e serviços.

“Aproximadamente um terço da população mundial ainda não tem acesso ao 3G ou 4G, e 10% está totalmente desconectada”, afirma Granryd, da GSMA.

Revolução 5G
O impacto do 5G vai muito além das telecomunicações e toca profundamente no comportamento das pessoas e na transformação dos negócios.  Além de permitir navegação em altíssima velocidade, com vídeos de alta qualidade carregando instantaneamente, a rede traz outras mudanças importantes. Entre elas, a ampliação da Internet das Coisas a partir da conexão de sete trilhões de dispositivos. “Ao conectar pessoas, máquinas e coisas em escala maciça facilita-se a entrega de cuidados de saúde personalizados, otimiza-se o transporte e logística, melhora-se o acesso à cultura e à educação e revoluciona-se os serviços públicos”, diz Granryd, da GSMA.

Veja os três principais impactos do 5G

Maior velocidade
Em teoria, a rede 4G é capaz de atingir velocidade de um gigabit por segundo – não que você chegue perto disso quando usa a conexão no seu celular. Com o 5G, o objetivo é atingir velocidade máxima dez vezes maior, chegando a 10 Gbps.

Menor latência
Latência é o tempo necessário entre a estimulação e o funcionamento real da rede. A meta é atingir uma latência de apenas um milissegundo com o 5G – a rede 4G tem latência de 50 milissegundos.

Maior eficiência
As pesquisas em dispositivos conectados devem atingir um nível de eficiência mais alta. Isso é importante dentro da ideia de Internet das Coisas, na qual bateria de objetos não podem ser substituídas ou recarregadas com frequência em alguns casos. A rede 5G deverá ser 90% mais eficiente do que a 4G.

Impacto na comunicação e marketing

Sob a ótica da comunicação e do marketing – games, realidade virtual e aumentada, hologramas, conteúdo multimídia de qualidade e capacidade de colaboração em tempo real são algumas das evoluções que o mercado já está experimentando com o aumento da capacidade de conexão.

“Os efeitos mais claros sobre a indústria criativa são a possibilidade de entregar vídeos em alta definição, de 4k, que irá potencializar a qualidade do conteúdo entregue ao consumidor e o uso de Realidade Virtual em redes de multijogos e multijogadores”, afirma Mounir Ladki, presidente da MycomOSI.

A revolução no setor, segundo ele, não virá apenas dos serviços e produtos que podem ser oferecidos ao cliente, mas também nos modelos de trabalho. “Redes de designers poderão trabalhar juntos nos projetos, usando a capacidade de conexão 5G. Uma nova geração de design colaborativo está nascendo. Isso ligado às capacidades de impressoras 3D, que também estarão conectadas ao processo, irá diminuir o ciclo de criação”, diz Ladki.

A ideia de colaboração sem fronteiras também afeta os modelos de negócios, que já começam a se transformar. A Atrium TV, em Londres, produz conteúdo em dramaturgia e o distribui para emissoras de televisão em todo o mundo. O modelo funciona como um ‘clube comissionado’ para dividir custos e competir com gigantes do streaming, explica o CEO Jeremy Fox.

“Nós trazemos as ideias, encontramos os talentos, apresentamos os roteiros. Os membros do clube que comprarem o projeto pagam a sua parte e entregamos o produto”, afirma Fox. Acompanhando a demanda dos consumidores de produtos como Game of Thrones, a Atrium vem investindo em histórias com apelo universal, usando efeitos especiais altamente digitalizados.

A inovação no conteúdo é uma das maiores tendências observadas por Tim Mahlman, da Oath. “Os anúncios que vemos nos aplicativos hoje estão muito comoditizados. A partir de agora, veremos uma abordagem mais ‘customer-first’, onde formatos como AR e VR criam possibilidades para que o usuário interaja diretamente com a publicidade”, diz Mahlman.

A própria Oath já vem experimentando essas novas abordagens – em uma campanha idealizada durante um hackathon, a empresa usou VR em um aplicativo para que os usuários deixassem suas mensagens em forma de  “graffitis virtuais” em um muro real de Santa Monica, na Califórnia. Os usuários também podiam ver as mensagens das outras pessoas cada vez que utilizavam o app. “É uma maneira incrível de unir cultura com tecnologia, permitindo a livre expressão sem poluir o ambiente externo”, conta Mahlman.

Hoje, apenas no universo dos aplicativos, há mais de três mil conteúdos em realidade virtual disponíveis, afirma Cher Wang, presidente da HTC. A previsão é de que esse número aumente exponencialmente, no mínimo acompanhando a capacidade de conexão via 5G. “Com a VR, podemos experimentar o que o outro está vivendo. É possível nos colocar no lugar de um refugiado, ou de uma árvore no meio da floresta tropical”, diz Wang.