Smart City Expo: sustentabilidade, IA e a relação do AirBnb com as cidades

Ao debater pilares das cidades inteligentes e inovadoras, congresso realizado em Barcelona reflete sobre o papel socioeconômico da plataforma de hospedagem nos centros urbanos

Considerado um dos mais importantes eventos na área de cidades inteligentes e inovação urbana, o Smart City Expo World Congress aconteceu em Barcelona, entre os dias 7 e 9 de novembro. Além da exposição com inúmeras soluções e cases, os palcos reservam palestras e painéis potentes com personalidades e empresas que, por meio de sua atuação, transformam a maneira de viver em coletivo sob perspectivas sociais, culturais e econômicas.

Na sessão de abertura, o cofundador do AirBnb Nathan Blecharczyk falou sobre a complicada relação da plataforma com a cidade e sobre os passos da empresa em direção à sustentabilidade e ao uso de inteligência artificial. O executivo comentou que o conflito com as autoridades da capital catalã foi amenizado depois que o AirBnB compartilhou dados com a cidade. Hoje, Barcelona recebe mais de 150 mil turistas por dia, o que vem gerando uma valorização exponencial nos preços dos apartamentos nas zonas centrais da cidade nos últimos anos. “Em um determinado momento, em 2018, a cidade pediu para remover alguns imóveis da plataforma, e desde então retiramos mais de 7 mil propriedades,” explica o cofundador. 

Como cada cidade tem suas especificidades e demandas, em seus primeiros anos a plataforma fazia contratos customizados para garantir que suas necessidades fossem atendidas, mas a popularização da plataforma tornou essa tarefa impossível.

Nathan Blecharczyk, cofundador do AirBnb: maior envolvimento de anfitriões e hóspedes nas metas de sustentabilidade da companhia

Nos últimos anos, cidadãos de cidades como Atenas, Lisboa e a própria Barcelona, vêm protestando contra o avanço massivo dos apartamentos turísticos, um fenômeno que vêm expulsando moradores locais para as periferias das cidades devido à pressão desse turismo sobre os aluguéis. Blecharczyk explica que a empresa colabora com autoridades locais para que elas tenham mais dados e regulação desse tipo de contrato, mas é cético quanto à efetividade da retirada dos imóveis da plataforma, pois estes tendem a migrar para outros canais.

Além do efeito ‘gentrificador’ do turismo, o executivo também foi questionado sobre a reponsabilidade da empresa no impacto ambiental desses viajantes. “Como muitas companhias, nos comprometemos a zerar nossas emissões até 2030, compensar o uso de eletricidade ou garantir que usemos fontes de energia renováveis. Mas a maior oportunidade de inovação está em como usamos nossa plataforma e envolvemos nossos hóspedes e anfitriões nesses esforços.”

Uma das iniciativas foi a criação de um fundo de US$ 2 milhões para ser investidos em projetos de eficiência energética dos imóveis listados na plataforma, em uma espécie de programa de ‘financiamento’ de reformas. Como resultado, o AirBnb decidiu pagar por 700 das 14.000 propostas recebidas – números ínfimos diante dos aproximadamente 7 milhões listados na plataforma. Blecharczyk também citou apoio financeiro a iniciativas comunitárias para minimizar o impacto social e ambiental causado pelo turismo nas cidades.

Ao ser perguntado sobre o peso da inteligência artificial regenerativa dentro do ecossistema das empresas de tecnologia, o executivo afirmou que usa ferramentas de IA “todos os dias” e se considera um otimista em relação ao seu impacto e evolução. “No Airbnb, estamos pensando na IA como uma oportunidade para unir ainda mais as pessoas. Porque a nossa missão é conectar pessoas, a lugares e umas com as outras.” Mas ao voltar a falar do papel das cidades nesse contexto, ele diz que “toda essa tecnologia está cada vez mais integrada em nossa vida cotidiana e levanta todos os tipos de questões, que são, em último caso, responsabilidade de cada tipo de cidade regular e moldar. Quanto mais as cidades puderem fazer parceria com a indústria e com inovadores para descobrir isso juntos e fazer isso de forma proativa, mais a cidade se posiciona para ser um líder que está no cenário global, descobrir diferentes maneiras de fazer as coisas e entender o que funciona.”