Publishers e redes sociais: uma nova relação se desenha

Pesquisadora do Tow Center for Digital Journalism revela dados sobre a intersecção entre grupos editoriais e plataformas sociais conectadas

É forte, entre os publishers, a crença de que as plataformas de redes sociais vêm contribuindo para a queda da confiança no jornalismo. Apesar disso, a quantidade de posts se mantém estável. O que vem mudando é a forma como as organizações jornalísticas lidam com as mídias sociais. Essa é uma das constatações do estudo Platforms and publishers: Our life in their hands, conduzido por Emily Bell, diretora do Tow Center for Digital Journalism, da Columbia Journalism School.

A pesquisadora dedicou os últimos dois anos a analisar o sentimento de jornalistas em relação a plataformas como Facebook, Twitter e Google e de que forma se relacionam com essas redes sociais. Os resultados foram apresentados na semana passada, em Lisboa, durante a Gen Summit 2018, conferência sobre o universo midiático organizada pela Global Editors Network.

A pesquisa foi realizada em mais de mil redações dos Estados Unidos e Canadá, sendo a maioria organizações locais. Entre os entrevistados, 86% disseram que as redes sociais fizeram cair a confiança no jornalismo. Grande parte deles também se mostraram céticos quanto às ações das empresas do setor para combater o compartilhamento de informações falsas em suas plataformas, principalmente no caso do Facebook: 76% acham que a empresa não está fazendo o suficiente para lidar com o problema. Muitos também desconfiam que as plataformas não têm sinceras intenções de contribuir com o jornalismo.

Você acha que as empresas de redes sociais estão fazendo “mais do que o suficiente”, “apenas o suficiente” ou “não o suficiente” para combater fakes news em suas plataformas?

Facebook Twitter Google
Não suficiente 76% 71% 65%
Apenas o suficiente 14% 17% 21%
Mais do que
o suficiente
5% 4% 3%


Para você, o quão sincero é o desejo das plataformas de redes sociais em ajudar o jornalismo e os jornalistas?

Facebook Twitter Google
Não muito ou nada sincera

 

61% 53% 43%
Até certo ponto sincera

 

32% 36% 43%
Extremamente sincera

 

7% 10% 13%
** As tabelas não incluem o percentual de não respondentes.

Apesar disso, não há quedas significativas na quantidade de posts das organizações jornalísticas nessas plataformas. “Há muito ceticismo e uma certa raiva por parte dos publishers, mas há também um entendimento de que as grandes empresas de tecnologia são, inevitavelmente, parte de seus negócios”, afirma Emily Bell. O que vem acontecendo, segundo ela, é um amadurecimento da relação dos publishers com as empresas de mídia social: as organizações jornalísticas têm um pouco mais de controle sobre o que postam, onde e quando.

Neste sentido, há um foco claro em gerar assinaturas e consumo de conteúdo pago. Há uma queda nos posts nativos, com conteúdo alojado nas próprias plataformas, podendo ser acessados gratuitamente (exemplos: conteúdo no Instagram ou com acesso livre nos canais da Apple News).

Por outro lado, há um aumento nos posts que buscam atrair a audiência para os websites dos publishers e também de posts diretamente vinculados a assinaturas e outras formas de pagar pelo conteúdo (exemplo: canais de conteúdo pago na Apple News).

A pesquisadora apresentou, ainda, suas previsões para o comportamento das organizações jornalísticas e das plataformas de redes sociais nos próximos anos. Entre as organizações, a aposta é uma crescente valorização da missão de cada negócio. “Empresas sem missão, agressivamente comerciais, vão ficar em desvantagem”, diz Bell.

Isso se relaciona diretamente com os movimentos esperados das plataformas. Uma das principais tendências é a de que as empresas de redes sociais vão investir cada vez mais no mercado jornalístico, particularmente na mídia cidadã. Uma das questões que se impõem, diante disso, é como manter a independência editorial.

* Daniela de Lacerda é jornalista e pesquisadora. Doutoranda em Mídias Digitais no programa UT|Austin Portugal, na Universidade Nova de Lisboa.