Finance & fintech: pagamentos, personalização e inclusão

Novos players diversificam e renovam ecossistema financeiro, em sintonia com modelos e jornadas de consumo mais ágeis e híbridas

A indústria de Finance & Fintechs é uma das que mais impulsiona a inovação atualmente, e que mais rapidamente vem se adaptando aos novos hábitos de consumo. A pandemia de COVID-19 acelerou movimentos que já vinham reconfigurando o setor, com foco prioritário em três vertentes: experience business, formação de um novo ecossistema e pós-propósito. Esses fenômenos impactam diretamente os investimentos e estratégias de marketing e mídia.

O experience business se traduz no crescimento e sofisticação das  experiências via interfaces conectadas. Dos 50 maiores bancos do ranking Fortune 500, 89% já investem, de forma robusta, na digitalização de canais e redesenho de produtos e serviços, segundo pesquisa do The Copenhagen Institute for Futures Studies.

Esse movimento deve ganhar um impulso extraordinário com a chegada do 5G, levando a experiência financeira para outro patamar, em termos de agilidade, funcionalidade e segurança. Grande parte das soluções nesse sentido surgem a partir da chegada de novos players e das parcerias entre empresas tradicionais e startups, formando um novo ecossistema no setor financeiro.

Bankia: El mercado de los valores humanos
O banco espanhol criou um índice de valores humanos, como amor, solidariedade e empatia, com monitoramento a partir das redes sociais. O banco faz doações na medida em que esses sentimentos crescem.

Na era do pós-propósito – em que o conceito de brand purpose evolui, de fato, para brand action – todas essas inovações precisam estar diretamente associadas à melhoria das condições de vida das pessoas. “Entre todas as indústrias, a maior expectativa de retorno para a sociedade está sobre os serviços financeiros”, afirmou Leanne Cutts, CMO do HSBC, durante apresentação no Cannes LIONS Live, no fim de junho. “Mais do que comunicar o propósito, é hora de provar que ele é verdadeiro”, defendeu.

Diante da crise econômica e social provocada pela pandemia de COVID-19, essa cobrança se intensificou. “Os desafios são imensos. É o momento de fortalecer ainda mais a parceria com nossos clientes e mostrar que estamos juntos”, diz Priscilla Salles, CMO do Banco Inter. Segundo ela, a prioridade agora é minimizar os impactos na vida financeira dos correntistas e oferecer condições facilitadas para ajudá-los a enfrentar esse momento.

Confira, a seguir, algumas das principais tendências para o setor de finance&fintechs no contexto do pós-propósito e do experience business, além de inventivos projetos na área.

Open banking

Também conhecido como Sistema Financeiro Aberto, o open banking dará ao cliente a posse de seus dados e do histórico de transações (hoje controlados pelos bancos). Com isso, será possível escolher os serviços e as instituições que o consumidor preferir – por exemplo, investir com um player, tomar empréstimo com outro e manter conta corrente com um terceiro. A troca de dados entre bancos só acontece com o consentimento do usuário. O Banco Central já iniciou a regulamentação do open banking, previsto para começar no Brasil em 30 de novembro.

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Olivia AI
A plataforma integra gestão de produtos e serviços financeiros de diferentes instituições, atuando sob o conceito de sistema financeiro aberto

Ecossistema financeiro digital

A demanda crescente por digitalização, virtualização e agilidade deve impulsionar a oferta de serviços especializados, como autenticação, assinatura digital, biometria ou segurança, entre outros. “Por causa do volume e da velocidade exigida, tendem a crescer as contratações de fornecedores que ajudem a acelerar o processo de digitalização”, diz Maurício Barboza, diretor-executivo da área de serviços financeiros da Accenture Brasil.

O Banco do Brasil, por exemplo, lançou a plataforma BB Startups, para se aproximar do ecossistema de startups. O site abre um canal para empresas interessadas em parcerias estratégicas com a instituição financeira. O banco também aposta em APIs de serviços bancários. Elas facilitam a conexão de soluções das fintechs ao banco, oferecendo mais opções de pagamento, por exemplo, além do compartilhamento de dados.

Também se observa uma crescente oferta de serviços financeiros digitais por players de fora da indústria, promovendo a diversificação e inovação desse setor. É o caso de Rappi e Uber com suas carteiras digitais, e de marketplaces como Americanas e Magalu.

Joust
A fintech lançou um banking app voltado especialmente para trabalhadores autônomos, que funciona como conta bancária e também como plataforma para enviar faturas, programar e receber pagamentos.

Mobile payments e soluções contactless

A crise global de saúde pública provocará mudanças profundas na sociedade e no consumo, potencializando ainda mais as soluções digitais para atividades do dia a dia, principalmente as opções contactless. Para termos ideia de como a “economia do baixo contato” impacta o setor financeiro, foi registrado um aumento de 40% no tempo gasto em aplicativos financeiros na América Latina, no primeiro quarter deste ano (já no cenário da pandemia), de acordo com dados do App Annie. “Tecnologias que fazem muito sentido neste momento são o pagamento com cartão físico sem contato e o Interpay, funcionalidade que permite a pessoas físicas e jurídicas realizarem vendas utilizando o celular como meio de pagamento”, diz Priscila Salles, do Banco Inter.

Os meios de pagamento estão entre os oito segmentos de fintechs mais eminentes, liderando esse ranking. Em seguida, vêm crédito, risco e compliance, backoffice, criptomoedas, finanças pessoais, cartões e fidelização – de acordo com estudo da PwC sobre o futuro da indústria financeira na América do Norte e na América Latina.

Entre os mobile payments, a grande pauta do ano são os messaging platform payments (pagamentos mobile por meio de aplicativos de mensagem).  O Wechat já concentra 33% do mercado de pagamentos mobile na China, enquanto o Line domina 28% do mercado de pagamentos na Índia e 42% na Coreia.

Nesse contexto dos pagamentos digitais, se popularizam as carteiras digitais, embarcadas nos chamados “superaplicativos”, como Uber, Rappi, Mercado Pago, Vivo Money, Claro Pay e Apple Pay – impulsionados pela tecnologias NFC (aproximação) e QR Code. Estudo da Bain & Company estima que essa modalidade vai representar 38% do mercado de pagamentos em 2022.

Starling Bank: connected card
Criado pelo banco inglês diante da COVID-19, cartão conectado com limite pré-definido pode ser compartilhado com pessoas de confiança, para compras durante o isolamento social.

Inclusão financeira

Análise de The Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), a partir de dados do Serasa, Banco Mundial e Banco Central do Brasil, mostra que 79% dos brasileiros não possuem acesso a nenhum tipo de crédito e 39% da população de baixa renda guarda dinheiro dentro de casa. Boa parte da inovação nessa indústria se concentra na ampliação e simplificação do acesso a serviços financeiros, com oferta de produtos para pessoas que não costumavam ser incluídas pelas instituições tradicionais.

BanQi
Fintech promete democratizar o acesso a serviços financeiros, por meio de cartões virtuais pré-pagos e crédito fácil para pagamento de boletos. Programa inclui parceria com as Casas Bahia.

Personalização

Personalização é um fator crítico para otimizar a experiência do usuário. O Nubank, considerado uma das empresas mais inovadoras do mundo pela Fast Company em 2019, focou em aprofundar o conhecimento sobre os clientes para construir seu plano de marketing. Com um entendimento amplo da sua base, passou a estabelecer relações próximas com essas pessoas nas redes sociais, adotando um tom descontraído e bem-humorado, com estímulo à interatividade e memes atraentes.

A empresa criou, ainda, os WOWs, pequenos mimos enviados a clientes em situações inusitadas (como um brinquedo para a cachorrinha que mastigou o cartão do dono). Quem recebe se sente especial, e a curiosidade gerada pela ação ajuda a impulsionar a marca.

Mastercard Astronomical Sales
Projeto realizado nos Emirados Árabes impulsionou vendas ao criar escala de descontos proporcional a eclipse solar observado em dezembro de 2019. Pela primeira vez, a marca de uma empresa foi vista organicamente no céu, como uma espécie de “live outdoor in the sky”.

Conteúdo

Tanto fintechs focadas no público consumidor (B2C) quanto no corporativo (B2B) enfrentam a necessidade de promover algum tipo de educação financeira para seus clientes ou prospects. Seja ensinando millennials a gerenciar suas finanças pessoais ou auxiliando uma corporação a resolver problemas de negócios, a produção de conteúdo dá mais peso à proposta de valor da empresa. Nesse sentido, é essencial priorizar qualidade em vez de quantidade – principalmente entre os clientes corporativos, que usam as informações publicadas como suporte para tomada de decisão. Para eles, o importante são conteúdos que adicionem valor e tragam insights que os ajudem em seus negócios. E, em meio a um mar de conteúdo, é vital diferenciar-se do que a concorrência está fazendo.