SXSW Insights: regulação da Inteligência Artificial, tecnologias emergentes e blockchain além das fintechs

Terceiro dia de festival teve Elon Musk (de novo), tentativas de explicar blockchain e, pasmem, o prenúncio do fim do smartphone

Neste domingo, o SXSW propôs duas discussões que soam como futuro, mas que precisam ser debatidas com urgência. A primeira delas veio do bilionário Elon Musk. Em uma sessão anunciada horas antes pela organização – o que causou uma busca insana por entradas –, o fundador da Tesla e da SpaceX voltou a tocar num assunto delicado: a necessidade de regulamentação do uso de Inteligência Artificial.

Há alguns meses, Musk causou polêmica ao dizer, no Twitter, que a Inteligência Artificial é mais perigosa que a Coreia do Norte.

Fuzuê à parte, Musk de fato tem sido uma das principais vozes em favor da criação de regras para sistema de AI. O tema vem sendo levantado em vários painéis neste SXSW, mas a posição de um dos principais empreendedores da atualidade, com certeza, vai fazer o debate esquentar daqui pra frente.

Outra área em que o tema da regulamentação tem dado o que falar é a neurociência. Em um painel sobre os recentes avanços das tecnologias para potencializar a atividade cerebral, Miriam Meckel, publisher da revista semanal alemã WirtschaftsWoche, deu uma declaração provocadora.

Para ela, se as técnicas da neurociência não forem objeto de regulamentação, corremos o risco de ver uma camada mais rica da população tendo acesso a ferramentas para impulsionar sua capacidade cerebral – o que, no fim do dia, acarretaria um desequilíbrio social.

Tempos sombrios estão por vir? É de se esperar que a mesma comunidade criativa e empreendedora que todo ano apresenta novidades incríveis no SXSW, também saiba como contornar os desafios legais e morais de suas ideias.

O FIM DO SMARTPHONE… OI?!
Uma das sessões mais aguardadas nesta edição do SXSW prenunciou que 2018 marca o início do fim do smartphone. A pesquisadora americana Amy Webb, que corajosamente declarou a sentença no palco, acumula mais de uma década de estudos sobre os movimentos que orientam o mercado de tecnologia.

A apresentação deste domingo se baseou na edição do estudo Tech Trends Report, relatório publicado anualmente pelo Future Today Institute. Entre as principais tendências que devem impactar as relações entre marcas e consumidores, o levantamento aponta a integração entre diferentes indústrias e plataformas.

“Estabelecer ligações entre diversos setores é essencial para mapear tendências de verdade. A inovação precisa dessas conexões para acontecer”, diz Amy.

A conclusão sobre o fim dos smartphones foi baseada na estagnação – e até mesmo um início de queda – nas vendas dos aparelhos. Segundo Amy, a retração está relacionada ao aumento da oferta de aparelhos destinados a funções específicas, como pulseiras de monitoramento físico, óculos digitais e relógios inteligentes.

Nessa linha, Amy também destacou que mais da metade da população de nações industrializadas usará algum tipo de assistente virtual nos próximos anos. A expectativa é que a evolução das tecnologias de machine learning, reconhecimento de voz e de imagens torne as plataformas ainda mais assertivas.

Para acessar o estudo completo que reúne mais de 200 tendências – faça isso, assim que puder -, clique aqui.

BLOCKCHAIN, A INTERNET DOS ANOS 1980
Num painel que tenha trazido talvez o olhar mais pragmático até aqui no SXSW, Amber Baldet, diretora executiva do Blockchain Program do JP Morgan, definiu o atual uso de blockchain como equivalente ao da internet nos anos 1980. A ideia do painel Business on the Blockchain era justamente livrar a audiência do hype e falar sobre o que realmente vem sendo feito e as potencialidades da tecnologia, que automatiza protocolos de segurança em transações.

Ao lado de Brian Behlendorf, diretor executivo do Hyperledger, braço de blockchain da Linux Foundation, ela detalhou aplicações já sendo prototipadas em indústrias como a da saúde, qualquer cadeia produtiva e, claro, o setor financeiro.

No caso da saúde, a tecnologia já tem permitido não só que o seu histórico médico seja reunido digitalmente, como facilita a um médico obter mais rapidamente permissão para clinicar por meio de sistemas que consolidam bases de registro de atuação profissional de diferentes instituições ligadas à saúde (como conselhos de medicina).

Já quando olhamos para cadeia produtiva, a desintermediação do blockchain poderá permitir traçar toda a jornada de um produto desde a produção/colheita até a chegada à gôndola considerando os posturas exigidas, por exemplo, pela sociedade ou a lei (uso de fairtrade ou respeito à legislação ambiental, para citar alguns casos).

Já no setor financeiro, blockchain já está sendo usado para automatizar processos financeiros e dar mais segurança às transações econômicas. Enquanto Brian ressaltou que em alguns anos qualquer setor dependente de transações usará blockchain (ou seja, todos), Amber foi muito clara: a desintermediação promete ser disruptiva, mas montar esses sistemas descentralizados tem sido bem mais complexo na prática.

INFLUENCERS: PRÓXIMA GERAÇÃO DE VAREJISTAS
Como se comunicar com a chamada geração dos devices (mais jovem que a da internet), que têm os smartphones como seus melhores amigos? Esta é a geração Z, que compreende os indivíduos que nasceram entre 1995 e 2010.

O mobile é o principal canal de comunicação com esse grupo etário que está constantemente criando e compartilhando conteúdo, precisa ser engajado o tempo todo e, por dom natural, acaba se tornando creators.

Parte dessa nova geração, ao lado dos millennials, nos  ensinaram que influenciadores digitais não são apenas uma oportunidade de marketing, mas também de vendas.

Esse foi o tema do debate Influencers are the next generation of retailers. Com um mercado que movimenta US$ 2 bilhões em receitas anualmente no mundo, os influenciadores passam atuar como empresas de conteúdo e a dividir o bolo investimentos em marketing dos anunciantes, com as gigantes da mídia. Entretanto, a rapidez com que disseminam uma tendência vem revolucionando todas as indústrias.

“Tomando como exemplo a indústria de beleza e da moda. Se antes eram lançadas duas coleções por ano, agora precisamos de muito mais peças e atualizações durante o ano. Isso implica em mais pesquisas, mais produção, logística e canal de comunicação sempre ativado”, disse Spencer McClung, EVP ipsy.

Além da cadeia produtiva, as estratégias e até as personalidades das marcas também estão mudando. Em vez de um produto ou uma coleção centrada em um diretor criativo, agora faz-se necessário a cocriação ou o sistema de brand partners entre marcas e influenciadores, quer as marcas gostem ou não.

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SXSW Insights 2018 é um projeto proprietário da GoAd Media que detecta as principais tendências do maior festival de interatividade do mundo e entrega o conteúdo em formatos de Análises Diárias, White Paper e Palestras In Company.
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Insights: Andrea Magama, Christian Miguel, Eduardo Zanelato e José Saad Neto