Se os sistemas de Inteligência Artificial já cumprem tarefas humanas de forma invisível – tradutores digitais e assistentes de voz, por exemplo -, agora eles passam a ter identidade. Desta forma, poderão romper a barreira entre máquina e homem e se conectar com pessoas de forma mais significativa pelo simples fato de terem uma face – com olhos, nariz, boca e habilidade de reagir visualmente a estímulos. O debate ganhou força no SXSW neste sábado, 11, que destacou ainda uma tecnologia de engenharia genética capaz de editar o DNA, soluções de design e neurociência aplicada ao marketing.
BABYX, NADIA E ROBÔS PERSONIFICADOS
O que significa “humanizar” a Inteligência Artificial
Pelo menos cinco sessões debateram o tema neste sábado. Os sistemas que evoluem a partir da quantidade de “experiências” e dados dos quais se retroalimentam, agora também se conectam “emocionalmente” com as pessoas. Na prática, eles deixam de ser programas invisíveis e passam a se apresentar com aparência humana.
No painel Giving a Face to AI, o cofundador e CEO da empresa neozelandesa Soul Machines, Mark Sagarn, defendeu que a interação social entre máquinas e pessoas está prestes a atingir um novo patamar. Duas vezes ganhador de Oscar técnicos em filmes como Avatar e King Kong, ele combina modelos biológicos de faces e sistemas neurais para animar personagens que, munidos de IA, respondem não só a comandos de voz, mas também à expressões faciais.
Com isso, sistemas como o Siri, da Apple, podem ganhar um rosto e a capacidade de reagir visualmente às perguntas. Para provar, Mark interagiu, ao vivo, com o BabyX, animação criada em 2013 pela Soul Machines a partir de IA e que, desde então, vem sendo aprimorada, como mostra o vídeo abaixo produzido pela Bloomberg:
Outro projeto encabeçado pela empresa tem participação da atriz Cate Blanchett, que emprestou a voz à assistente pessoal Nadia. Lançado em fevereiro deste ano, o sistema insere a tecnologia no universo das empresas e a propõe como solução para atendimento a clientes.
https://www.youtube.com/watch?v=0-BSrFQv2ls&t=3s
O buzz em torno da Inteligência Artificial vem sendo armado no SXSW há pelo menos três anos. Mas é nesta edição que os sistemas dominam boa parte da programação e provocam indagações concretas sobre seu avanço. Por exemplo: essas máquinas podem se tornar mais poderosas do que humanos a partir de mecanismos de learning e interação? Isso representa um risco?
Para um dos criadores do Siri e cofundador da provedora de sistemas de Inteligência Artificial, Adam Cheyer, a resposta é não. Na sessão HI + AI: What’s the Future of Intelligence?, ele desarmou os mais alarmistas. “Existe uma revolução em andamento, mas ela não surgiu hoje e não acabará com tudo amanhã. Os sistemas evoluem porque nós, humanos, queremos desta forma. O controle sobre o que eles se tornarão e seu papel está e sempre estará nas nossas mãos”, analisou.
Sob a perspectiva de trabalho e emprego, sistemas de IA já sinalizam o fim de ocupações e o redesenho de profissões. No entanto, não quer dizer que acabarão com o papel humano, que passa a ser resignificado no novo contexto. “Temos que encarar esse avanço como algo positivo e nos enxergar com outro papel dentro de áreas ou mercados. Um papel que não pode ser cumprido pela automação e pela Inteligência Artificial”, disse a VP global do eBay, Tekedra Mavakana, no painel How the Gig Economy Impacts the Future of Work.
O FUTURO DA HUMANIDADE
E se as células de DNA puderem ser editadas como um documento?
A frase acima foi tema de painel apresentado pela pesquisadora Jeniffer Doudna, professora de biologia molecular e química e cocriadora da tecnologia CRISPR, processo revolucionário de edição de genes que, segundo ela, tem seu desenvolvimento pautado por três áreas: biologia, tecnologia e ética.
O insight é de Gisele Aguiar, diretora de marketing do Yahoo para a América Latina: “CRISPR é uma maneira de acelerar o processo de evolução genética, tornando as ferramentas para isso mais precisas uma vez que entende o código de DNA mais rapidamente e sinaliza que tipo de mutações podem ocorrer. Pode ser usado na medicina, por exemplo, para transplante de órgãos a partir da edição de material genético de animais.
Sobre a questão ética, Jeniffer diz que filósofos e cientistas fazem parte do programa e que a tecnologia tem um impacto positivo real na sociedade, desde que usada com responsabilidade. A edição genética pode proteger pessoas de doenças, assim como ajudar na agricultura e na compreensão e adaptação do mundo às grandes mudanças climáticas”.
No vídeo abaixo, Jeniffer Doudna defende e explica a CRISPR:
ALÉM DO DESIGN
Soluções para refugiados
A área cresce em importância dentro do SXSW Interative e, neste sábado, o painel Human Centered Design destacou uma solução no contexto da crise dos refugiados sírios. A plataforma Reframe Refugee permite que pessoas que vivem nessa situação publiquem imagens e histórias produzidas por elas mesmos e vendam o conteúdo para grandes publishers.
É uma espécie de banco de imagens que tem renda destinada a abrigos que recebem famílias em zonas de conflito. Criado pela dupla de designers da agência Etcetera Marie-Louise Diekema e Tim Olland, o projeto foi revelado, no ano passado, pelo What Design Can Do.
NEUROCIÊNCIA
Na terra da inovação, o cérebro é rei
O insight de Fabiano Destri Lobo, diretor-geral da Mobile Marketing Association Latam, vem do painel Next Generation Marketing with Neuroscience, apresentado por Nancy Harhut, pesquisadora e chief creative officer da Wilde Agency: “Ela demonstrou que existem formas de orientar o nosso cérebro com narrativas e elementos surpresas e destacou, baseada em estudos, que decisões de consumo muitas vezes são reflexivas, o que pode fazer com que boas campanhas simplesmente não funcionem. Com técnicas de neurociência é possível driblas essa lacuna e influenciar o comportamento com foco em vendas. É o que Nancy chama de nova geração do marketing”.
PUBLICIDADE MOBILE
Formas e formatos de conexão entre marcas e consumidores
A abordagem das marcas aos consumidores nos dispositivos móveis requer contexto e pertinência. Pelo desafio inerente à tela, bons projetos de publicidade mobile ganham destaque no SXSW. O insight do painel iMessage: The Next Marketing Gold Mine é de Guilherme Gomide, CEO da Mirum: “Apesar dos cases mostrados serem baseados no serviço de mensagens da Apple, pouco utilizada no Brasil, servem de inspiração já que empresas como Dunking Donuts, Dove e Nike personalizaram teclados e chatbots com Emojis e garantiram até 70% de conversão para os site de e-commerce proprietários”.
Neste ano, a premiação Innovation Awards, reconhece dentro do SXSW projetos inovadores de marca em 13 categorias, traz entre os 65 finalistas ações amplamente baseadas em mobile, e que sinalizam novas maneiras de solucionar desafios ao conectar e engajar pessoas pelos dispositivos móveis.
Entre eles, #comeonin, da DDB de Sidney para Sidney Opera House, criado a partir do seguinte desafio: apesar do prédio ser o mais fotografado da Austrália, somente 1% das imagens eram feitas de dentro. Para estimular a visitação interna, a DDB usou geolocalização para enviar convites personalizados, em tempo real, a quem fotografava e postava nos arredores. Vídeos gravados por funcionários da Opera House foram compartilhados no Instagram com a hashtag #comeonin e o visitante marcado. O resultado da comunicação mostra incremento de 40% no número de visitas.
SXSW Insights levanta tendências de comunicação e marketing do maior evento de inovação e interatividade do mundo e apresenta esse conteúdo em formato de Análises, White Paper e Palestras In Company.