SXSW EDU: tecnologias imersivas e base escolar antirracista

Dedicado ao setor educacional, festival destacou a convergência entre tecnologia e humanidades

Dentro do ecossistema South by, o tema educação é tratado, principalmente, no festival SXSW EDU, realizado entre 4 e 7 de março. A edição deste ano foi marcada por diferentes temas que apontaram para a mesma direção: o desafio de educadores, gestores educacionais, estudantes e empresários do setor diante da exponencialidade de tecnologias como a Inteligência Artificial.

Enquanto muitos palestrantes apontaram soluções para tornar o ambiente educacional mais diverso e inclusivo, outros analisaram oportunidades e desafios de ferramentas baseadas na IA generativa dentro das escolas e universidades.

Na área dedicada à exposição, chamaram a atenção as soluções baseadas em Inteligência Artificial e realidades estendidas (XR). Criada em Austin, sede do festival, a plataforma imersiva StudentVerse tem como objetivo melhorar o envolvimento dos estudantes e combater a queda nas taxas de retenção verificada com o ensino tradicional. Para isso, ela usa um ecossistema baseado no metaverso para atrair e incluir estudantes no sistema educacional, independentemente de sua localização geográfica. A Universidade do Texas e a Universidade de Nevada, ambas nos Estados Unidos, já utilizam a tecnologia.

Já a empresa United Robotics Group levou à feira simpáticos robôs que atuam tanto como assistentes em sala de aula quanto como professores de coding (programação), disciplina que se tornou essencial no contexto do surgimento de novas profissões.

United Robotics Group: empresa marcou presença na exposição do SXSW EDU

Educação imersiva

Uma das formas de a escola engajar estudantes em torno do aprendizado e, também, de causas sociais é adotar o que já faz parte das jornadas de entretenimento deles. Nesse sentido, o game imersivo Robloxapresentou exemplos de projetos que avançam na esteira de sua popularidade. Um deles é o Robo.Co, destinado ao ensino da robótica.

Na área de exposição do festival, houve predominância de empresas oferecendo soluções baseadas em games, metaverso e programação. Com foco na reformulação de espaços e grades educacionais, a EdFarm, organização baseada no estado norte-americano do Alabama, realiza pesquisas com estudantes para propor soluções às instituições. O foco tem sido programas baseados na linguagem de códigos e na criação de espaços e conteúdos imersivos a partir do amplo uso de ferramentas digitais.

Ainda no campo que alia educação e entretenimento, o SXSW EDU colocou em pauta o conceito de storyteaching, que alia o ensino às narrativas lúdicas. A empresa que melhor materializa a ideia é a Encantos, plataforma de ensino de histórias que capacita os creators para ajudar as crianças a aprenderem as competências do século XXI. 

Critical Race Theory e a base escolar antirracista

Um dos temas mais controversos na agenda política estadunidense atualmente foi protagonista na edição deste ano do SXSW EDU: a Critical Race Theory (ou teoria crítica de raça). Trata-se de um modelo teórico que busca explicar as desigualdades raciais nos Estados Unidos. Nele, explica-se que a discriminação de uma pessoa por causa de sua raça não é um problema que existe apenas nos indivíduos, mas que foi transferido para as estruturas sociais em que vivemos e acaba se refletindo nas instituições e nas leis.

Figuras como o ex-presidente Donald Trump e o governador da Flórida, Ron DeSantis, culpam a teoria por “criminalizar a população americana branca e aprofundar as divisões raciais”. Organizações conservadoras também se posicionam contra o avanço da temática no ambiente escolar, até mesmo conduzindo manifestações na frente de escolas.

Kimberlé Crenshaw, da Universidade de Columbia: teoria crítica da raça deve ser ensinada na escola

Expoente da teoria e criadora do conceito de interseccionalidade, a pesquisadora e professora da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia Kimberlé Crenshaw, defendeu na abertura do SXSW EDU que a teoria crítica da raça deveria ser incorporada ao currículo escolar estadunidense. “É a forma mais eficiente de mudarmos, na base, inverdades e preconceitos que vão se consolidando como verdades ao longo da vida das pessoas”, analisou.

Ciente dos desafios, Kimberlé disse que nos estados com orientação mais progressista essa discussão está avançada, mas tende a se estagnar caso o republicano Donald Trump vença as eleições presidenciais deste ano nos Estados Unidos. Nesse contexto, ela usou o palco do SXSW para fazer uma convocatória: “Independentemente de termos o tema organizado como disciplina ou não, é nosso dever, como educadores, contribuir para a educação de cidadãos antirracistas”. Como resposta, ouviu gritos de aprovação e aplausos.