SXSW Insights: de onde vem a inovação?

Festival destaca convergência entre tecnologia, arte e conexões humanas como tríade mais potente para o ambiente inovador

Agenda multidisciplinar, ambiente propício ao networking e pensadores e celebridades nos palcos fazem do South by Southwest (SXSW) um dos encontros mais vibrantes da economia criativa mundial. Na edição deste ano, realizada entre 4 e 16 de março, a cidade de Austin (Texas, EUA) recebeu mais de 200 mil pessoas, que passaram pelos festivais SXSW EDU, SXSW Film & TV, SXSW Music e SXSW Comedy, além da Conference, que abarcou a maior parte do conteúdo distribuído em 24 trilhas temáticas. Não é pouca coisa – e é exatamente por conta dessa intensa sincronidade programática que o South by é único.

As diferentes pautas discutidas refletem o emaranhado de fios que convergem para a teia da contemporaneidade: tecnologia, política, educação e cultura. Dali, emergem narrativas. Ali, se desenham possibilidades de cocriação de futuros. De Austin, reverberam ideias e reflexões sobre um presente que se descortina de forma ampla e complexa. 

Constantemente definido como “o maior festival de inovação do mundo”, o SXSW é uma experiência estruturada em distintas áreas de conhecimento que se entrelaçam, principalmente, sob a ótica dos negócios. Faltam diversidade e representatividade, além de discussões do Sul Global. Como muito se tem falado, o festival cresceu e perdeu seu caráter transgressor e vanguardista, mas, mesmo assim, ainda é um fórum importante, com bom conteúdo e narrativas emergentes.

Um dos grandes ativos do SXSW é reunir as pessoas no mesmo tempo e espaço, tornando Austin um dos lugares mais interessantes do mundo pelo menos por aquelas duas semanas, para aquelas 200 mil pessoas – e os mais de 2,5 mil brasileiros que tiveram o privilégio de estar lá. 

Mais do que inovação, o festival promove conexão com pessoas, pensamentos e perspectivas. Promove também certa histeria, afinal, tudo precisa ser vivido e divido porque “a felicidade só é real quando compartilhada”, já profetizara Christopher McCandless no longínquo ano de 2005: hoje, essa é uma onda culturalmente natural dos nossos tempos.

Mas de onde vem a inovação? 

Das experiências individuais de quem se aventura sozinho por Austin? Das trocas coletivas dos que preferem grupos com agendas sincronizadas? Dos que se jogam nos bares apostando que percepções são mais potentes do que razões? Dos que se acomodam nas poltronas a 2 mil quilômetros de distância e criticam o deslumbramento dos que lá estão? Dos artistas que invertem as padronizações estéticas? Dos gurus que desafiam os pensadores? Dos aprendizes e curiosos que se abrem ao novo? 

Quando a construção de futuros possíveis depende, integralmente, das escolhas do presente, é possível que a inovação venha desse emaranhado de jornadas e experiências – dos que foram, dos que não foram, dos que nem sabem o que significa SXSW. Mas que, impreterivelmente, compreendem que somos todos parte um ecossistema conectado e interdependente – da natureza, da política, da educação, da tecnologia, das conexões, da arte, do afeto. 

Possivelmente, as maiores inovações do mundo vêm da ciência, da sensibilidade em entender as necessidades humanas, do que nos diferencia da máquina, do que nos diferencia do algoritmo. Certamente, a maior inovação de todos os tempos não virá do SXSW, mas da capacidade de cocriar hoje o que poderá nos salvar amanhã. Essa provocação o festival é expert em fazer.