Para muitos que participaram presencialmente do SXSW 2022 (na cidade de Austin, EUA), o festival foi o primeiro grande evento físico desde o início da pandemia de covid-19. Não por acaso, o festival procurou dar propósito a esse momento. Coube a Priya Parker, autora best-seller e mediadora de conflitos, abrir o evento, com uma mensagem sobre a força da comunicação e da interação física.
Parker abordou o reencontro como um aprendizado, no sentido de ouvir genuinamente, compreender os motivos do outro e explorar a empatia, em busca de uma real conexão entre as pessoas. A seguir, você confere as mensagens trazidas por outros grandes nomes SXSW, que participaram das keynote sessions.
Neste ano, o festival foi realizado entre os dias 11 e 20 de março. A GoAd Media estava lá e fez uma potente e inspiradora curadoria de temas, tendências e cases do festival. Esse conteúdo será apresentado em formato de white paper e palestras in company, que podem ser contratadas sob demanda.
Amy Webb: o valor da “repercepção”
A futurista Amy Webb protagonizou uma das sessões mais disputadas da edição 2022 do SXSW. Fundadora do Future Today Institute (FTI), ela apresentou a última edição do Tech Trends Report,com destaque para a evolução da inteligência artificial, do metaverso, da descentralização e do blockchain.
Nas análises do FTI, uma palavra serviu como guia: “repercepção”. O conceito remete ao fato de perceber o novo em uma informação ou situação já existente, de identificar algo além daquilo que outras pessoas enxergam em determinado contexto. Para a futurista, essa capacidade se tornou essencial para encontrar soluções em cenários de complexidade.
Celine Tricart: mundos melhores no metaverso
Referência em storytelling imersivo, a cineasta Celine Tricart defendeu a exploração do metaverso com o objetivo de arquitetar versões melhores do mundo. “Por que não trazer conceitos de colaboração e solidariedade, em vez de reproduzir o que temos hoje no mundo real?”, questionou.
Tricart enfatizou os impactos reais causados por experiências com alto grau de imersão, como LARPs (Live Action Role Playing Games) e experiências em VR muito realistas – aos quais ela se refere como “sangramento emocional”.
“Quando atuamos como um personagem por sete ou oito horas seguidas em contextos intensos, saímos carregando as sensações daquilo que vivemos”, analisou. É nesse tipo de conexão cada vez mais íntima entre ficção e realidade que ela vê um espaço para a aceleração de transformações positivas.
Kevin Mayer e Michael Kassan: conteúdo transacional
O futuro da mídia e do entretenimento se fundamenta em uma tríade poderosa: conteúdo, comunidade e transações comerciais. A partir de um conteúdo de interesse, formam-se comunidades fiéis, abrindo espaço para conversão em vendas.
Foi isso o que defenderam, no SXSW, duas das principais mentes do setor nos Estados Unidos: Kevin Mayer, fundador e co-CEO da Candle Media, e Michael Kassan, fundador e CEO da MediaLink. “Estamos em um ponto de inflexão no qual o conteúdo está influenciando tudo, em especial as transações comerciais”, afirmou Kassan.
De acordo com os executivos, após a forte consolidação pela qual passou o mercado de streamings, o setor se volta para uma fonte de receita antiga: a publicidade. A Disney+ deve ganhar um formato mais barato, parcialmente custeado por anúncios. Já a Netflix admitiu a possibilidade de incluir propaganda na plataforma, algo que sempre havia descartado com veemência.
Lizzo: o poder de ser quem você quiser
A atuação da ativista, cantora, produtora executiva, atriz e ícone pop Lizzo é um chamamento à autovalorização. E essa foi a mensagem-chave de sua passagem pelo SXSW em 2022. “Não seja tão dura com você mesma. Você é qualquer coisa que acredita ser”, afirmou.
Pode soar repetitivo e óbvio, mas, para uma mulher negra e gorda, muitas vezes repetir isso é garantir a própria existência. “Por muito tempo não tive ninguém como inspiração, e daí veio a ideia de autoamor, de me inspirar em mim mesma”, afirmou.
O mais recente projeto de Lizzo promove diretamente a normalização de corpos gordos na sociedade. Trata-se do reality show Watch Out For The Big Grrrls, marcando sua estreia como produtora-executiva após assinar contrato com a Amazon Prime Video.
No programa, Lizzo busca dançarinas com corpos grandes, semelhantes ao seu, e o faz desafiando a competitividade típica dos reality shows. “Não precisamos ficar colocando as pessoas umas contra as outras. O ambiente de dança já é hostil. Se posso mudá-lo, por que não fazer isso?”, questionou.
Maria Ressa: como enfrentar um ditador
Prêmio Nobel da Paz em 2021 por seu trabalho em defesa da democracia nas Filipinas, a jornalista Maria Ressa, fundadora da Rappler, voltou a convocar pessoas de todas as partes do mundo para combater a desinformação e a manipulação algorítmica engendrada pelas plataformas de tecnologia – Meta/Facebook em particular.
“Empresas de tecnologia e governos abdicaram da responsabilidade de proteger a esfera pública, que é onde a democracia acontece”, afirmou Ressa, no festival. Para ela, três pilares são fundamentais na defesa da verdade: tecnologia, jornalismo e comunidades de ação.
O papel dos jornalistas é crucial nesse sentido, mas ela fez questão de deixar claro que essa é uma luta coletiva. “Trata-se de devolver o poder às pessoas, fazer com que sintam novamente que têm autonomia e como podem exercê-la”, enfatizou. Isso é ainda mais importante em períodos de eleições políticas, como teremos em 2022 tanto nas Filipinas como no Brasil.
Reggie Fils-Aimé: ousadia na liderança digital
Ícone em inovação digital, o executivo e empreendedor Reggie Fils-Aimé, ex-presidente da Nintendo, fez coro sobre o poder do metaverso, tema onipresente no SXSW 2022, a que ele se referiu como “a nova nuvem, ou a internet de 20 anos atrás”: um termo guarda-chuva ao qual todos estão querendo se associar.
Ele acredita que essa fronteira tecnológica se firmará dentro de cinco anos, e avalia que o comportamento das pessoas hoje já indica essa tendência, pontuando o sucesso de plataformas como Roblox e Fortnite. Para Fils-Aimé, a partir da evolução da realidade aumentada, o metaverso se fundirá mais com nossa vida cotidiana, com potencial de se tornar um novo tipo de “prime time”.
Para navegar por esses novos mares digitais, Fils-Aimé defende competências muito humanas: líderes da indústria precisam trabalhar fortemente seus skills de comunicação, manter uma forte curiosidade intelectual e apostar na formação de times diversos para enfrentar desafios complexos.
Alexis McGill Johnson e Busy Phillips: direito ao aborto
A urgente resistência ao movimento antiaborto, retrocesso que ganhou força nos Estados Unidos nos últimos anos, foi o tema central do keynote que reuniu Alexis McGill Johnson, CEO e presidente da organização Planned Parenthood, e Busy Philipps, atriz e ativista pelos direitos reprodutivos.
Nos EUA, há mais de 340 projetos de lei nos Estados para dificultar ou proibir o aborto, e mais de 200 que atacam direitos de pessoas LGBTQIAPN+. “Eu me pergunto porque criam regras como a de aguardar 24 horas para confirmar a decisão pelo aborto se não é preciso esperar nada para sair de uma loja com uma arma nas mãos”, criticou Philipps.
McGill Johnson pediu uma união ampla contra a estratégia de “marketing da vergonha” adotada pelos grupos antiaborto. “Essa é uma batalha por poder e controle [sobre os corpos de pessoas com útero], e é extremamente cruel”, afirmou.
A executiva enfatizou a necessidade de entender o tema como de saúde pública, e elogiou iniciativas como a da empresa Salesforce, que passou a custear viagens de funcionárias que decidem abortar para Estados norte-americanos onde o procedimento é permitido.
Neal Stephenson: o autor do fim do mundo
Em 1992, o autor de ficção especulativa Neal Stephenson lançou um de seus livros mais famosos, Snow Crash, no qual elencava uma série de invenções do futuro: dispositivos móveis, moedas digitais, avatares e metaversos – sim, em 1992.
Pulando 30 anos para frente, Stephenson é cauteloso ao falar das inovações que previu, especialmente o metaverso. “É preciso olhar com certo ceticismo sobre o quanto, efetivamente, vamos querer embarcar nessa jornada, no sentido de entender o que mudará em nossas vidas do ponto de vista prático”, afirmou durante o SXSW.
Em seu último livro, Termination Shock (2021), Stephenson explora possíveis saídas para evitar o fim do mundo, por meio de uma narrativa de ficção altamente realista, tendo a emergência climática como pano de fundo. Na obra, um empresário texano inventa a maior arma do planeta para lançar enxofre na atmosfera e resfriar a Terra.
A batalha em torno da solução torna-se o cenário perfeito para discussões sobre saídas empresariais e desacordos globais diante de um problema tão complexo, que parece realmente ser o fast track para a ruína da humanidade.
Mesmo pessimista a respeito desse assunto, Stephenson destacou como evolução positiva, embora ainda tímida, o interesse de investidores de startups de tecnologia com relação a negócios ligados à redução de emissões de carbono. “Precisamos de todos esses esforços, e muito mais”, enfatizou.
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