Responsabilidade ambiental é urgência política e corporativa

Enquanto o tema não for prioridade de negócios, projetos na área serão insuficientes para minimizar os efeitos das mudanças climáticas

Todo e qualquer movimento realizado pelas instituições públicas e privadas até hoje no sentido de frear ou minimizar os efeitos das mudanças climáticas foram exíguos. A prova tem sido dada pela própria natureza: termômetros batendo recordes em todo o mundo, secas severas em algumas regiões, enchentes devastadoras em outras, aumento da temperatura da água dos oceanos e o consequente desequilíbrio ambiental que reforça a agenda do meio ambiente como a maior urgência da contemporaneidade.

Embora o discurso em torno do ESG – sigla que integra responsabilidades ambiental, social e governança corporativa como estratégias de negócios – seja crescente nas corporações, na prática ainda se vê um abismo entre comunicação e execução. 

Nas curadorias realizadas globalmente por nosso time nos principais fóruns de inovação, negócios e marketing ao longo dos últimos dois anos, o tema emergência climática apareceu de forma marginal nas rodas de conversa. Fora deles, a ausência de medidas efetivas e escaláveis também é realidade. Constatação sintomática de um mercado que tanto fala sobre ESG.

Um possível sopro de otimismo vem dos alarmes disparados nos conselhos das grandes organizações, especialmente aquelas que possuem capital aberto e veem o valor de suas ações oscilarem diante do não cumprimento dos requisitos básicos de desenvolvimento sustentável. O problema é que o básico não resolve mais. É irrisório diante dos efeitos provocados pelo próprio homem e o modelo que nos trouxe até aqui.

Relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (dezembro de 2023), aponta que os investimentos das empresas privadas em mudanças climáticas têm crescido, mas ainda se concentram nas nações mais ricas do planeta e se limitam, de forma mais significativa, aos campos da energia renovável.

Movimentos como o da Apple, que se comprometeu a neutralizar a emissão de carbono em todos os seus produtos até 2030 com uso de energia limpa, inovações em materiais e transporte de baixa emissão, são uma amostra de que é preciso adaptar modelos de negócios para que se tenha efeitos práticos no meio ambiente. 

Não existe mais perspetiva para o crescimento desenfreado, mirando apenas o lucro, sem sustentabilidade como pilar de desenvolvimento socioeconômico.

Se o tema não for priorizado de fato, é possível que, em médio e longo prazos, vejamos consequências cada vez mais trágicas da irresponsabilidade humana e corporativa.