Manoj Fenelon: a inovação passa pela construção coletiva do futuro que desejamos

Pesquisador e professor da Parsons School of Design fez da curiosidade profissão e se especializou no estudo do amanhã

Pesquisador e professor da Parsons School of Design, em Nova York, e ex-diretor de inovação global da PepsiCo, Manoj Fenelon se especializou em olhar para o futuro, fazer perguntas, e promover a construção coletiva de um amanhã mais sustentável e justo. Fenelon conversou com a GoAd Media durante o festival Primer19, em junho, nos Estados Unidos, e defendeu a importância de mobilizar a imaginação coletiva em torno da transformação social. “Se as pessoas são suficientemente inspiradas por este tema, e fazem algo para ativar o poder de participação em suas próprias redes e círculos, a ideia de um futuro para todos pode se tornar possível”.

Você defende abordagens participativas para coimaginar futuros desejáveis. De que forma isso é possível?

Estou convencido de que a liberdade de participar significativamente na criação de seu próprio futuro (como indivíduo e comunidade) é uma das liberdades mais importantes para nossos tempos de transição, quando o velho está morrendo ao nosso redor e o novo ainda está nascendo. Se soubermos onde procurar e como, a imaginação participativa não é apenas possível, mas está potencialmente em quase toda parte, e requer menos do que pensamos para ser ativada.

No livro Blessed Unrest, o ambientalista Paul Hawken estima que há pelo menos 2 bilhões de pessoas trabalhando em prol de um mundo melhor. A questão é que essas pessoas (ainda) não estão tão conectadas. Na prática, acabamos nos conectando com um número muito menor de pessoas, responsáveis pelo mundo que temos hoje – e isso faz com que a nossa percepção do que é possível seja distorcida pelo volume dos poucos que dizem “não”.

Que exemplos você poderia citar dessa reimaginação ativa de um mundo melhor?

Só para começar com o pouco que conheço do Brasil, o projeto Economia Azul (ex-ZERI), o Instituto Terra, o Orçamento Participativo no Rio Grande do Sul e o coletivo criativo Perestroika são exemplos inspiradores. São projetos que reimaginam ativamente e manifestam um mundo diferente. Há projetos de menor escala também. Recentemente, me juntei ao conselho consultivo de uma escola fundamental muito interessante no Harlem, em Nova Iorque (EUA), chamada Pono. Nesta escola, os alunos cocriam o currículo e a maioria das regras de conduta; os professores ajudam a fazer as lições e estão por perto para ajudar com outras coisas. Me surpreendo como é fácil (com criatividade, compaixão e boas perguntas) chegar a uma abordagem que é mais envolvente para os alunos e menos trabalhosa para os professores. Mal posso esperar para ver que tipo de adultos essas crianças se tornarão.

Qual a indústria mais avançada, hoje, no sentido de construir um futuro para todos? Por quê?

A questão fica mais fácil de ser respondida se pudermos falar de empresas e organizações (até redes), em vez de indústrias. A Philips, por exemplo, é um exemplo interessante de uma empresa que se reinventou, guiada por alguns dos impulsos mais participativos de previsão e design  – passando de uma empresa de iluminação a uma empresa que usa o design ambiental para afetar a vida das pessoas para melhor.

A rede global da B-Corp é um exemplo fascinante de uma coalizão diversificada, embora conectada, de pessoas que estão mudando as próprias regras de negócios e colocando o futuro dos trabalhadores, e de outras partes interessadas, em igual importância com os lucros imaginados pelos acionistas.

Núcleos da ONU (a Unicef, especialmente) têm reimaginado a forma como trabalham para incluir mais as opiniões e sonhos daqueles que serão afetados pelo trabalho. O Service Space é outro coletivo inspirador e bastante disperso de pessoas em cantos distantes, todos unidos pelo tema de projetar para a generosidade .

Um dos seus objetos de estudo é o consumo. Qual a principal mudança nas motivações das pessoas para comprar, nos últimos anos?

Podemos apontar coisas como alimentos orgânicos e outras tendências que são aparentemente boas para nós e para o mundo. Mas estou mais interessado em saber como as pessoas abandonam a cultura do consumo. Pessoas que optam por residências em hotéis; pessoas que compartilham recursos em vez de seguir cegamente o mantra de “Eu sou o que tenho”; pessoas que escolhem uma experiência em vez de uma coisa.

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Com edição de Daniela de Lacerda