Forecasting: 9 cenários futuros para alimentação, transporte, marketing e mídia

A partir de debates e pesquisas divulgadas no último SXSW, apresentamos previsões para diferentes áreas

Entre as muitas previsões que vimos neste ano durante o SXSW, entre 8 e 17 de março, em Austin, algumas chamaram mais nossa atenção porque são baseadas em estudos ou movimentos acelerados de presente. Pesquisas do Future Today Institute, EmbraerX e Tencent embasaram nosso forecasting deste ano. A seguir, mostramos nove previsões e suas respectivas fontes:


Inteligência Artificial: China

Até 2030, a China deverá ser o maior centro global de inovações em Inteligência Artificial, impulsionada por três das 10 maiores empresas de tecnologia do planeta – Alibaba, Baidu e Tencent – e pela ausência de leis regulatórias mais severas sobre privacidade e gestão de dados pessoais. A população massiva do país – em torno de 1,4 bilhão de pessoas – oferece a pesquisadores, grandes empresas e startups,fontes naturais para a ciência que se forma em torno da relação homem x máquina. Investimentos feitos pelo próprio governo chinês poderão balancear o poder geopolítico do mundo, a partir dos avanços e do amadurecimento da AI e suas infinitas aplicações. Para empresas e governos, projetos implementados na China serão referência em inovação, mas vão esbarrar na legislação que já começa a ser implementada em diferentes nações, com particularidades de cultura, infraestrutura e velocidade para integração de sistemas muito distintas.


Transporte: micromobilidade aérea

O desenvolvimento de protótipos de carros voadores vai provar, nos próximos cinco anos, que o hardware para os modelos é viável. NASA, EmbraerX, Helicopters Bell e até a Uber já trabalham na criação de seus equipamentos para oferecê-los como alternativa de transporte autônomo aéreo para curtas distâncias. No SXSW, a Uber mostrou que, em 2030, uma pessoa poderá fazer o trajeto de São Paulo a Campinas, em 18 minutos, pagando R$ 100. No entanto, em médio prazo, a adoção dos equipamentos de forma comercial esbarrará na ausência de regras e regulação e também na falta de infraestrutura das cidades para decolagens e pousos desse tipo de aeronave. 


Robótica: interface homem x máquina


Pesquisadores estão encontrando novas formas de conectar pessoas aos computadores, permitindo interações via pensamento, e ampliando a possibilidade de comunicação daqueles que sofrem de paralisia, por exemplo. Startupscomo NextMind, Neurable e Trimble apresentaram projetos de interfaces não invasivas para o cérebro testadas, inicialmente, nas áreas de games e transporte. Ainda levará alguns anos para essa tecnologia se tornar escalável, mas projetos – e até investimentos feitos por nomes como Elon Musk – apontam que os protótipos começam a ser materializados comercialmente. Além das startups, as universidades de Stanford e Case Western Reserve, nos EUA, e a Universidade de Tóquio, no Japão, também desenvolvem pesquisas científicas sobre o tema. 


Cannabis: infusão e bebidas

Com o avanço da legalização da cannabis nos Estados Unidos e no Canadá, assim como em outras partes do mundo, é importante observar verticais de negócios que surgem em torno da planta. Deve crescer – e muito – o uso comercial da erva, a partir da matéria-prima CBD, uma parte da marijuana sem efeitos psicoativos, capaz de reduzir a dor e promover o relaxamento muscular. Um mercado potencialmente promissor é o de bebidas à base de cannabis. Poderão ser fabricados chás para ajudar a relaxar e recuperadores pós-treino para atletas. A marca de cervejas Lagunitas, do portfólio da Heineken, é uma das empresas que já investiga novas técnicas para drinks.

5
Agricultura: fazendas inteligentes

Para atender à demanda global por mais alimentos, pesquisadores estão transformando as grandes fazendas produtoras por meio de tecnologias como inteligência artificial e automação. Sensores podem, por exemplo, monitorar o nível de umidade do solo e comunicar a um sistema de irrigação que aumente o fornecimento de água. O crescimento das chamadas AgTechs responde a uma projeção de que, até 2050, a indústria de alimentos precisará dobrar a produção para atender à população. Entre as empresas para se observar nessa área, estão Tyson Foods, OpenAg Initiative, Macarrone Bio Innovations e Verizon – que, embora atuem em silos diferentes, estão comprometidas com o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias no setor.

6
Saúde: detox digital

Esquenta o debate sobre como o uso excessivo de objetos conectados pode influenciar, de forma negativa, a saúde física e mental das pessoas. Pesquisadores já fazem conexões entre o tempo dedicado às redes sociais e crises de ansiedade e depressão. Até o Facebook admitiu, em 2018, que passar muito tempo conectado à plataforma poderia fazer as pessoas se sentirem mal, enquanto Google e Apple já notificam usuários sobre o tempo gasto em aplicativos ou serviços digitais. Grupos como o Center of Humane Technology e o Commom Sense intensificaram o lobby, nos Estados Unidos, para que sejam criadas políticas de alerta e educação para o uso de dispositivos conectados por crianças. Nesse contexto, deve aumentar ainda mais o debate sobre a importância da desconexão – o detox digital.

7
Mídia: economia da atenção

A busca por audiência na economia da atenção, que fez proliferar os formatos de conteúdo em listas, não é tão facilmente mensurável como se imaginava, porque nem tudo o que as ferramentas de analytics apontam como real tem provado ser. Como resultado, grupos de mídia e agências de publicidade vão expandir o olhar sobre os insights e criarão novos formatos de medição de resultados. As respostas a esse desafio já podem ser observadas em movimentos como a contratação de David Kenny, que liderava a área de interações cognitivas na IBM, como CEO da empresa global de pesquisas de audiência Nielsen, e no desenvolvimento de uma área de inteligência artificial e humana para métricas pela gigante de conteúdo NBC Universal. Nos próximos anos, deveremos ver um maior número de publishers criando modelos proprietários que tragam mais transparência para os dados de audiência apresentados.


8
Entretenimento: realidade mista

Uma nova era do conteúdo imersivo e das experiências para o poderoso mercado de gamesjá começou, e o lançamento da plataforma Stadia, pelo Google, é a prova disso. Crescem startups como a Virtual World Arcade, serviço que faturou US$ 1 bilhão com assinaturas de games imersivos em apenas um ano. Espaços físicos para jogos em realidade mista também avançam em cidades como Tóquio e Seul. Com a maturidade da tecnologia de mixed reality – que integra as realidades aumentada e virtual – deveremos ver uma expansão ainda maior deste mercado, impulsionando também os negócios para headsets e consoles. Também vão avançar os clubes anuais de assinatura, que permitirão receber novos gamese equipamentos sem a necessidade de investimentos pontuais.  

9
Marketing: conexões offline

Com pessoas sempre em movimento e pacotes de dados das operadoras de telefonia móvel ainda vinculados ao tempo de uso, empresas que oferecem navegação gratuita e uso offline de serviços de apps experimentam maior fidelidade da audiência. Netflix, Youtube e Amazon Prime já permitem baixar conteúdo para assistir mesmo quando não há conexão. The Washington Posttambém criou uma forma de consumo de notícias e exibição de anúncios, via aplicativo, sem acesso à internet. Pode parecer estranho apontar a oferta offline de conteúdo como tendência. Mas, com o avanço da internet das coisas, essa promete ser uma forma de manter, pelo menos em médio prazo, conexões relevantes e significativas entre marcas e pessoas, via smartphones.