Computação espacial: sobreposição de realidades

Tecnologia permite interagir com o mundo real ao mesmo tempo em que abre “camada digital” de conteúdos e interações

A temática realidade estendida (XR) tem sido influenciada pela chegada do Apple Vision Pro, óculos de realidade virtual da Apple, que consolida uma nova expressão no ambiente das experiências imersivas: a computação espacial. A promessa é ir além de um dispositivo de Realidade Virtual (VR) e se tornar uma interface em que se pode “habitar”, capaz de integrar-se com o corpo do usuário e com o cenário ao seu redor, e que está contextualmente consciente da existência tanto da esfera virtual (a interface) quanto do mundo real (cenário e usuário). 

Durante o SXSW 2024, realizado entre 8 e 16 de março, em Austin (Texas, EUA), o debate em torno da spatial computing destacou que a tecnologia permite interagir com o mundo real (caminhar, conversar, se mover) ao mesmo tempo em que se ganha acesso a uma “camada digital” de conteúdos e interações, que aparecem diante dos olhos de quem usa o dispositivo, que vai interagir com a interface por meio do olhar, da voz e do movimento das mãos. 

Na opinião de Ola Björling, líder criativo da Buoy Studio, a chegada do dispositivo da Apple coroa uma década de grandes avanços para o setor das experiências imersivas e expande as possibilidades de aplicações e usos da tecnologia.

Desde o lançamento do Oculus Rift em 2012, por meio de uma bem-sucedida campanha do Kickstarter, passando por sua compra pela Meta e seus sucessivos desenvolvimentos, a expectativa de Björling é que a partir do Apple Vision Pro os óculos deixem de ser apenas uma ferramenta para experiências imersivas de entretenimento (games ou filmes, por exemplo) e comece a se integrar com a realidade dos usuários. 

Isso porque a Apple traz para o cenário duas importantes vantagens frente a outros concorrentes:

– Vasta expertise na construção de interfaces agradáveis para os usuários.

– Conectividade com um ecossistema de celulares e computadores, promovendo um formato de computação que se “espalha pelo espaço físico”.

A expectativa é que os avanços dos gadgets de realidade virtual façam com que a experiência se torne mais agradável do que anteriormente (o que inclui menos falhas e mais qualidade de visualização, o que evita que as pessoas fiquem nauseadas, por exemplo). No entanto, a perspectiva de curto prazo é que o formato siga sendo utilizado por um público nichado ou para experiências específicas em que se queira ter uma conexão realmente significativa com os usuários. 

Aplicações
Os entusiastas seguem defendendo que as experiências imersivas (XR) e de computação espacial são uma das mais poderosas em termos de fomentar emoção e engajamento. Por isso, deverão seguir sendo utilizadas para experiências que queiram causar impacto emocional ou que percebam a relevância de dar uma sensação de presença/realidade.

Incluem-se neste âmbito experiências e treinamentos simulados, que permitam perceber nuances ou que deem preferência ao aprendizado por meio da experiência prática, como treinamentos na área da saúde ou em situações em que se queira uma visão em primeira pessoa com menor taxa de riscos (como treinamentos de cirurgias ou de uso de maquinário pesado, por exemplo).

Além da imersão
A computação espacial pode incluir experiências imersivas, mas vai além dela. Ela efetivamente traz uma experiência computacional para a frente dos olhos das pessoas e permite que elas interajam com isso e com a realidade “ao mesmo tempo”. Também poderá ter implicações interessantes no rastreamento do consumo de conteúdo, já que os óculos virtuais também são capazes de medir e mensurar detalhes como o movimento dos olhos ou, especulativamente, os movimentos de abertura da íris, podendo quem sabe reconhecer emoções ou “excitações” do usuário.

Por mais que a chegada do Apple Vision Pro seja considerada um marco para o desenvolvimento da tecnologia, considerando as fortalezas da Apple (interface e integração com ecossistema computacional), é importante destacar que muito do desenvolvimento da tecnologia na última década é mérito da Meta e dos investimentos feitos no Meta Quest (anterior Oculus).