A Geração Y não é mais aquela. E a culpa pode ser da crise

Ao se deparar com desafios da vida real, esses jovens podem ter perdido um pouco da sua impetuosidade

Após pouco mais de um ano de experiência na área em que se formou, um jovem profissional confessou, decepcionado, que tinha desistido de trabalhar no seu setor. Os motivos? Baixo salário, pouca identificação com a atividade, dificuldade em se ver crescendo nessa profissão. Aos 20 e poucos anos, mesmo sem tentar outras oportunidades em seu segmento, decidiu começar outra faculdade mais promissora.

A história, típica da Geração Y e de suas características tão famosas, como inconformismo e imediatismo, aconteceu há alguns anos, na época de bonança econômica do país, quando ainda não falávamos de crise. Talvez não acontecesse hoje.

Acredito que outras gerações passaram por esse sentimento de ansiedade e vontade de “abraçar o mundo e acelerar o relógio” ao iniciar suas carreiras. A diferença é que, em sua juventude, os hoje quarentões e cinquentões viviam em um mundo com oportunidades e valores diferentes e, pelo menos no Brasil, um cenário econômico que não permitia reviravoltas profissionais arriscadas.

Muitos consultores já vêm dizendo que a Geração Y já não é mais a sonhadora, impetuosa e questionadora de poucos anos atrás – e a crise econômica pode ter uma boa parcela de culpa nisso. Que o digam os conformados membros da Geração X, que tiveram seus sonhos de ascensão profissional  limados pela década perdida e pelas crises sucessivas que o país viveu até meados dos anos 1990.

Os jovens da Geração Y (que já não são tão jovens assim) começam a se deparar com os desafios da vida real. Há quem diga que essa é a primeira prova “da vida adulta” que a maioria deles enfrenta, vivendo e trabalhando em um cenário de crise real. Muitos já são chefes e precisam gerir conflitos, enxugar orçamentos, demitir – em alguns casos, demitir muito.

Outros tiveram seus planos de desenvolvimento interrompidos, desacelerados, vêm sobrevivendo a cortes, trabalhando por dois, perdendo o aumento de salário ou a promoção prometida. Tudo isso demanda resiliência, a palavra mágica que muitos RHs repetem incessantemente nos últimos anos, e que só agora começa a fazer sentido no vocabulário de muitos jovens. A paciência, ainda que não exista, começa a ser forçadamente necessária.

Essa história não tem fim – ainda não sabemos como todos vamos sair dessa crise. A Geração Y pode se tornar mais madura, resiliente, menos ansiosa, talvez. Possivelmente, em alguns anos, esteja resignada demais, ou se mantenha em inconformada teimosia. Quanto ao jovem do começo da história, bom, ele ainda não decidiu o que fazer. Digamos que foco não é a sua habilidade mais reconhecida. Mas isso já é tema para outra conversa.

Vivian Soares é jornalista de negócios e viajante do mundo.