Cannes Insights: e-commerce criativo, a provocação da Unilever e a Realidade Virtual de Billy Corgan

Experiências imersivas, plataformas de conversão e Keith Weed (foto) estão entre os destaques do terceiro dia de festival

Jornadas capazes de encantar as pessoas a ponto de transformá-las em consumidores, mudar cultura (de compra, no caso) e, de quebra, impactar positivamente os negócios das marcas. Essa é a premissa da novata categoria Creative eCommerce, que teve resultados revelados nesta quarta-feira, 20, aqui no Festival Internacional de Criatividade de Cannes.

Entre os Leões na área, há algo em comum – a provocação de uma campanha à compra, por si só, não garante que a jornada seja concluída. É preciso criar mecanismos – por meio de conteúdo, tecnologia e interfaces – para que as pessoas concluam a transação.

Esse conjunto de fatores, que vai muito além da ideia e transcende o que conhecemos como publicidade, garantiu o Grand Prix à Microsoft, com a plataforma Xbox Design Lab: The Fanchise Model, criado em parceria com a McCann London. O projeto permitiu aos amantes do game não só customizar seus controles remotos, como vende-los e, com isso, acumular créditos para trocar por produtos.  Desta forma, a Microsoft aplicou a lógica colaborativa da internet, promovendo engajamento em torno de objetivos comuns, com recompensa e visibilidade para a conversão.

Outro projeto que chamou nossa intenção na categoria é da Volvo, que lançou um serviço de assinatura 24/7 para utilização de carros da marca sob demanda. Tudo por meio de um aplicativo. Uma espécie de clube de assinatura – tendências, aliás, apontada pela jurada brasileira na categoria, Andrea Siqueira, diretora-executiva de criação da Isobar Brasil.

No contexto da indústria automotiva, que enfrenta o amplo debate sobre compartilhamento e posse, o Care by Volvo, criado pela Grey NY, inova ao propor uma nova forma de “ter” um automóvel. E mais uma vez, é importante destacar um projeto como esse, baseado em serviço, premiado em Cannes.

https://www.youtube.com/watch?v=HlscJmEDSs0

VR MUSICAL
Isobar NY cria incrível experiência imersiva para Billy Corgan

Esse projeto de VR criado pela Isobar NY para o músico Billy Corgan materializa de que forma o futuro do entretenimento vai se desenhar. A incrível experiência baseada em conteúdo imersivo leva fãs e admiradores do músico para seu universo de criação por meio dos óculos de Realidade Virtual. Conquistou o júri e faturou o Grand Prix em Digital Craft, categoria que avalia tecnicamente o refinado uso de tecnologia criativa.

A adoção de Realidade Virtual e de Realidade Aumentada em cases de marca premiados em Cannes avança há pelo menos cinco anos. Enquanto VR aparece com destaque na ativação de experiências de entretenimento e em projetos de saúde e educação, AR ganha escala na medida em que ocorre pelas telas dos smartphones que chegam ao mercado com a tecnologia embarcada.

UM DIA NA APPLE
Experiência define fórmula de varejo inovador

A Apple marcou presença no festival nesta quarta-feira, nos palcos e nas premiações. Enquanto Angela Ahrendts, VP de Retail da companhia, mostrava as inovações na jornada de compra da Apple, a empresa faturava o Grand Prix de Brand Experience & Activation, com o projeto Today at Apple, criado e inscrito em Cannes pela própria empresa.

Trata-se de uma série de sessões inspiracionais e educativas espalhadas pelas lojas da rede durante um dia. Artistas, designer, cientistas da computação entre outros tanto profissionais ensinando aos interessados disciplinas como coding e design. O projeto acontece em mais de 20 países de forma frequente e já atingiu mais de 3 milhões de pessoas.

https://www.youtube.com/watch?v=M-1GPznHrrM

PROPÓSITO E IGUALDADE DE GÊNERO
Temas recorrentes e urgentes seguem na pauta do festival

Entre os painéis deste terceiro dia, nosso destaque vai para o debate liderado pelo CMO da Unilever, Keith Weed, que convidou fundadores de três marcas com propósito claro e que foram recentemente incorporadas ao portfólio da Unilever.

Weed destacou que, entre as estratégias da companhia para manter o propósito como um de seus pilares, está aquisição de marcas artesanais e locais, como a Demalogica, que utiliza matérias-primas naturais para fabricar produtos para a pele, e a Grom, gelateria italiana. Ambas possuem uma cadeia de produção sustentável.

“Meu primeiro passo começou com os fornecedores, com quem eu criei uma relação de confiança, pois eles acreditaram no meu propósito. Só a partir desta verdade é possível mostrar para clientes o quanto nosso discurso e verdadeiro”, conta Guido Martinetti, CO-founder da Grom.

Trazendo para dentro de casa marcas locais e sustentáveis, a Unilever não só amplia seu portfólio e fortalece sua imagem, como também aprende a grande lição que as start-ups ensinam: o negócio de serviços para as pessoas não é só sobre experiência de marca, é sobre conexões humanas.

Já o painel Bridging the gender divide: Supporting Each Other, idealizado pelo The Female Quotent, contou com a presença da CEO do YouTube, Susan Wojcicki; Tim Armstrong, CEO da Oath; Sean Moran, Head of Marketing da Viacom; e Michael Roth, CEO da IPG. A conversa  girou em torno do fato de que rompimento do silêncio das mulheres está gerando um desconforto nos homens.

O que chamou nossa atenção é que, na visão dos painelistas, há homens que preferem não trabalhar com times femininos, com medo de um confronto maior ou má interpretação nas formas de relação profissional. Para Tim Armstrong, colegas e colaboradores de uma empresa não devem se sentir intimidados ao convidar uma mulher para um almoço.

“Para um trabalho ser bem-sucedido, é preciso que os colaboradores conversem e se conheçam, sem distinção de gêneros. Só conectando as pessoas é que vamos entender sobre comportamento para esclarecer noções sobre limites”, destacou.

O CEO da Oath conta que entre algumas das medidas que adota para dar luz a essa questão, é  não participar de reuniões onde não exista um equilíbrio entre o número de homens e mulheres presentes. “Já cancelei algumas reuniões e isso causa transtornos. Não vou consertar as coisas sozinho, mas mensagem está sendo propagada”, explicou.

Debates sobre igualdade de gênero e quebra de estereótipos estão frequentes e disputados nesta edição do festival. Em nosso White Paper Cannes Insights 2018, pós-evento, traremos uma análise detalhada de como o tema foi abordado ao longo do evento.