Desde que surgiu, em 1987, o SXSW cumpre bem a missão de revelar o futuro. O festival já mostrou ao mundo bandas como Franz Ferdinand, Hansons e The Strokes, e também serviu de vitrine para o lançamento do Twitter, Uber e Airbnb. Entre as apostas deste ano, a novíssima Quibi foi tema do Keynote desta sexta-feira, 8, em Austin.
Definida como “algo legal vindo de Hollywood e do Vale do Silício”, a empresa é uma espécie de plataforma de vídeos de entretenimento e jornalismo “criados pelos melhores profissionais do mundo exclusivamente para celulares e pessoas em constante movimento”.
O cofundador Jeffrey Katzemberg defendeu a existência da Quibi atacando empresas como Netflix e Hulu. “Elas enfrentam uma crise existencial porque foram feitas para um consumidor em movimento, mas o que está ali só funciona plenamente nas grandes telas da TV”, afirmou.
Sem detalhar formato ou linguagem do conteúdo da Quibi, Katzemberg a definiu como representante do novo momento dos vídeos online – a “era pós-YouTube”. O lançamento oficial acontecerá inicialmente nos EUA, no próximo mês de abril. Além de séries e filmes para mobile, a plataforma reunirá notícias a partir de uma parceria firmada com a BBC.
Embora não tenha conseguido convencer a audiência de mais de quatro mil pessoas que o assistiram, Katzemberg garantiu que, em cinco anos, voltará ao palco do SXSW para falar sobre “a era da Quibi” como sinônimo da única forma coerente de assistir vídeos online. Valeu pela autoconfiança.
Aposta lançada!
PRISCILLA CHAN
O que esperar da organização filantrópica do Facebook
“Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, junte um grupo.” É assim que Priscilla Chan resume a missão da Chan Zuckerberg Initiative (CZI), organização filantrópica que fundou com seu marido, o dono do Facebook.
Por meio da tecnologia, a CZI promete conectar gente com diferentes backgrounds para impulsionar três causas principais: educação, ciência e justiça.
Os focos de atuação têm tudo a ver com a formação de Priscilla. Filha de refugiados sino-vietnamitas e a primeira da família a ter um diploma superior, ela tem formação em biologia e medicina, e se especializou em pediatria. No meio da formação, ainda deu um jeito de ensinar ciências numa escola da Califórnia.
E é justamente da área de educação que vem um dos projetos mais inspiradores da CZI. O Summit Learning Program é uma plataforma criada com a ajuda de professores do ensino básico que historicamente enfrentam um problema: como dar boas aulas para classes repletas de crianças com diferentes níveis de aprendizado?
A ideia de criar trilhas para tornar o ensino uma experiência individual deu origem ao programa financiado pela CZI. Olha só como funciona:
Para impulsionar ideias como essa, em 2015, Priscilla e Mark Zuckerberg prometeram doar 99% de sua fortuna à CZI. Guiada pela premissa de que impacto de verdade só se atinge com cooperação entre diferentes organizações, Priscilla, uma figura um tanto low-profile, é uma das figuras importantes da filantropia em tempos tão complexos. Foi, sem dúvida, uma ótima pedida do SXSW para celebrar o Dia Internacional da Mulher.
NÃO ÓBVIAS
7 tendências de um presente acelerado
Apresentadas pelo fundador e chefe de curadoria da The Non Obvious Company, Rohit Bhargava, as tendências refletem o presente acelerado e sinalizam o futuro próximo. Quando contextualizadas com exemplos, se conectam perfeitamente a movimentos já evidentes no mercado, tanto em âmbito social quanto econômico. Aqui, elencamos um resuminho delas:
1 – Retro Trust: com mudanças constantes mundo afora, as pessoas voltam sua atenção para o que traz nostalgia. É o que explica o crescimento das vendas de vinis e o retorno dos videogames de console.
2 – Downgrading: parte da população está saturada com excessos de novidades e opta pelas versões mais básicas de serviços e produtos. É a simplicidade como prioridade.
3 – Innovation Envy: há uma corrida pela inovação que, muitas vezes, se desconecta dos propósitos das empresas. Explosão de Hackatons e de “novas escolas de inovação” refletem esse movimento.
4 – Artificial Influence: quando o “fake” passa a ser “real”, a fantasia predomina. Já há marcas apostando em celebridades virtuais para representar seus produtos.
5 – Enterprise Empathy: felizmente, empatia tem se tornado atributo de negócios. Empresas têm desenvolvido novos produtos e campanhas a partir de um contato mais próximo – e empático – com as pessoas.
6 – Robot Renaissance: seja para personificar a Inteligência Artificial ou ensinar Coding nas escolas, os robôs refletem um futuro próximo mais integrativo para máquinas e humanos.
7 – Muddled Masculinity: dúvidas e mais dúvidas rondam o universo masculino e o conceito de masculinidade. Marcas já se reposicionam para se conectar às diferenças e à pluralidade do que é ser homem hoje.
DIGITAL
Back to basics
Para um festival cuja programação é focada majoritariamente em inovação, lembrar do e-mail marketing como ferramenta eficaz para aumento das receitas pode parecer, no mínimo, curioso. Mas para o consultor Neil Patel, seguimos avante com as novas tecnologias, mas há outras que nem de longe se tornaram obsoletas.
Em apresentação sobre o futuro do marketing B2B, ele explorou de que forma a volta ao passado é necessária se o objetivo é ser bem-sucedido em tráfego e conversão. “Temos cerca de 1 bilhão de blogs no mundo, um para cada sete pessoas. Por isso, branding, e-mail marketing, ferramentas como SEO e links patrocinados ainda fazem a diferença nas receitas, especialmente para pequenas empresas”, avaliou Patel.
Segundo o consultor, a principal pergunta nas buscas da internet é ‘Como?’. Esse cenário mostra que o marketing digital está cada vez mais baseado em educação. “Quando alguém faz uma busca por uma companhia ou produto, está procurando aprender algo sobre aquilo. Daí a importância de uma marca pensar em seu conteúdo, seja para explicar sobre suas ideias e valores ou até mesmo sobre o uso de seus produtos”, destacou.
BRENÉ BROWN
Vulnerabilidade e pertencimento
PhD em vulnerabilidade e sua importância para a conexão, Brené Brown trouxe para Austin o recorte da autenticidade nas interações pessoais – especialmente em eventos de experiências compartilhadas, a exemplo de campeonatos esportivos e festivais musicais como o SXSW.
Diante de um auditório onde a maioria poderia estar se sentindo um pouco deslocada e não pertencendo, Brené ilustrou com a fala de Maya Angelou a ideia de que “o melhor jeito de ser livre é não pertencer a nenhum lugar”, o que acaba levando ao sentimento de pertencer a qualquer lugar. Deve ter brilhado o olho de muito deslocado do SXSW, especialmente os estreantes.
Brené passou muito rapidamente pela importância de ter “strong back, soft front and wild heart”, que para ela significa uma tríade que ajuda a manter a autenticidade. Essa tríade é também um importante tripé para qualquer pessoa inovadora: ter uma estrutura forte para aguentar o tranco das críticas, uma “superfície macia” para receber feedbacks e ajustar as ideias, e um coração selvagem, que se permite sonhar com o que ainda parece improvável e impossível.
Brené perdeu o gancho perfeito de combinar inovação e vulnerabilidade na mesma apresentação, mas certamente encantou o público com seu bom humor e conexão com o espírito texano.
— — — — —
Com insights de Beatriz Lorente, Christian Miguel, Jacqueline Lafloufa e José Saad Neto, de Austin