“As companhias de sucesso do futuro serão as mais flexíveis às mudanças – e não somente aquelas que primeiro investirem em inovação. Adaptação é a palavra-chave”. Esta foi o principal conselho de Amber Mac, que esteve na terceira edição do Knowledge Exchange Sessions (KES), realizado no dia 11 de agosto, em São Paulo. Amber, colaboradora da revista Fast Company e consultora de grandes empresas, mostrou na prática como fazer com que sua empresa não derrape na velocidade da tecnologia nos dias de hoje.
“Vivemos na geração dos ‘screeners’: 38% das crianças com menos de dois anos de idade utilizam smartphones. Temos que ter estratégias para este novo ambiente, deixar as nossas empresas em constante estado beta”, reforçou a canadense, colunista de economia disruptiva em programas de emissoras norte-americanas como CNN e CBS.
Amber listou cinco passos para as empresas que pretendem adotar uma estratégia de ‘adaptação contínua’, que ela defende como a melhor forma de absorver as mudanças no ritmo acelerado da cultura corporativa no mundo digital.
1. Construa uma ‘missão social’
As companhias precisam abraçar uma ‘missão social’ – e no mais amplo âmbito da expressão. São vários os exemplos de empresas que mudaram a regra do jogo com pequenas e certeiras iniciativas. “O e-mail, por exemplo, está nos destruindo. 80% das nossas caixas de entrada é feito de lixo eletrônico. Além disso, torna tudo muito mais burocrático. Uma das maneiras de mudar isso é a utilização de ferramentas que diminuam a troca de mensagens”, explica Amber.
Neste caso, ela cita a criação do Slack –software de comunicação de equipes com conversas privadas e integração a serviços externos. “Estamos notando uma verdadeira transformação organizacional com esta nova ferramenta. Se adaptar também é isso”, reforça.
2. Siga os sinais das mudanças
Reed Hastings, CEO da Netflix, é considerado um ‘mestre da adaptação’. “Na maioria dos setores que atuamos, podemos não nos preocupar com pequenos erros. Se falharmos, temos que abraçar o fracasso e resolvê-lo rapidamente”, explica Amber. E o ‘culture deck’ da companhia mostra exatamente isso.
3. Lute contra o ‘darwinismo digital’
“Nos últimos cinco anos, vimos a ascensão do Netflix, a criação do Uber, a explosão do Airbnb. As pessoas se adaptam rapidamente às mudanças. As empresas, por outro lado, demoram mais para conseguirem se aperfeiçoar”, reflete.
Amber cita o desaparecimento de marcas como Blockbuster, Kodak e Borders, por exemplo. “Essas marcas pararam de entender seus consumidores. E é exatamente isso que não podemos deixar acontecer com as nossas empresas”, adverte.
4. Estabeleça parcerias ‘não-óbvias’
Se vivemos em “tempos líquidos”, como diz Bauman, a internet derreteu as fronteiras de espaço. Por isso, o conselho é que as companhias deixem de lado suas definições de ‘empresas concorrentes’ e criem parcerias que podem parecer não tão óbvias. “Nos negócios, ainda somos muitos rígidos. Esse é um paradigma que precisamos quebrar”, disse a consultora.
Para mostrar como isso está mudando, Amber exibiu dois cases de sucesso. No primeiro, ela comentou sobre a improvável parceria entre a marca de cosméticos Bobbi Brown e a fabricante de câmeras GoPro. Com uma estratégia bem bacana de conteúdo, a empresa de make-up escolheu uma série de atletas como suas embaixadoras. As esportistas fizeram uma série de vídeos usando produtos da marca em seus esportes – como surfe, ski, snowboard e base jump.
Outra parceria improvável e bem-sucedida destacada por Amber foi a plataforma de lançamento do novo single do cantor ‘country’ norte-americano Luke Bryan: o Tinder. Os novos aplicativos como Snapchat e Meerkat já estavam sendo utilizados por outros cantores – então Bryan foi além. “A ideia, na verdade, é somente uma adaptação da estratégia de marketing. Além disso, quem é casado e não pode usar o aplicativo de namoro conseguiu arranjar uma desculpa”, brinca Amber.
5. Seja relevante (e não se desespere)
Por último, Amber citou a diferença entre atitudes de duas cantoras: Annie Lennox e Maddona. “Annie é um exemplo de ‘relevância’ nos dias de hoje. Abraçou o feminismo e conseguiu se destacar assim. Do outro lado, vemos a Madonna tomando atitudes desesperadoras para aparecer. É um exemplo perfeito de alguém que tem muito poder, mas não sabe mais o que fazer”, enfatizou.
Por fim, Amber ainda trilhou uma estrada para o futuro – também com exemplos práticos de iniciativas que as companhias devem tomar para não perderem o bonde. Com um quote do escritor William Gibson, ‘profeta noir do cyberpunk’ – “O futuro já chegou. Ele só não está distribuído uniformemente”, a consultora citou inovações que estão entre nós e que devem, o quanto antes, serem adotadas pelas empresas: a aposta na internet das coisas e tecnologias ‘vestíveis’; a comunicação por mensagens efêmeras; a utilização de aplicativos de live streaming e o adoção de ferramentas digitais recém-criadas.
Além da apresentação de Amber Mac, o KES promoveu cinco grupos de debates sobre temas relacionados. Um pequeno extrato da discussão de meia hora de cada um deles você confere abaixo:
Convite ao Erro, com mediação de Andréa Naccache
Erros, no final das contas, são casualidades. E, aí, as sutilezas aparecerem. Muitas vezes os riscos aparecem como erros – e são qualificados como tais. O principal é organizar estruturas para que não precisemos procurar culpados e que funcionem bem com os acontecimentos do dia-a-dia. Quando existem estruturas em redes e cada ponto tem uma certa autonomia, as companhias conseguem estruturar melhor as lições a partir de um erro de uma unidade de negócios. O ponto mais importante, porém, é aliviar formalidades para que tais falhas não se percam no processo.
Design e Innovation Tool, com Jaakko Tammela
As ferramentas já existem – e são muitas. Na verdade, o que precisa ser alterado é a cultura instaurada nas empresas. Se a companhia é agente de mudança, ela precisa transgredir a inquietude e buscar sua mutação. Se dependermos do sistema, nunca conseguiremos acompanhar a evolução na velocidade que elas têm acontecido.
Marcas e Causa, com a participação de Nanna Lima, Juliana de Faria e Guilherme Valadares
Uma missão social não pode ser ferramenta de marketing. Ela tem que estar dentro da missão da empresa – e nem sempre é mensurável. Mas de onde vem uma causa? Ela precisa estar arraigada no nascimento da companhia. Mas será que toda empresa tem que ter uma causa? Não basta ter uma ‘big idea’ publicitária. Talvez o começo seja tratar os colaboradores de uma forma mais humana. A causa da porta para fora da companhia tem que ser coerente com o que acontece internamente, no dia-a-dia.
Mentalidade Start Up, com Pedro Waengertner
As grandes empresas podem – e devem – se comportar como start ups para fomentar seu desenvolvimento. Assim, conseguirão criar estruturas mais ágeis para reduzir processos e estruturas hierárquicas que, muitas vezes, travam suas inovações. Num segundo ponto, as companhias precisam parar de acreditar que sabem o que precisam. Por isso, devem saber investir em iniciativas de start ups para se defender do futuro e investir nelas mesmas, pensando sempre a longo prazo.
Hábitos criativos, moderado por Jean Sigel
Quem se considera extremamente criativo? Geralmente ninguém acredita ser. Mas as empresas são feitas de pessoas – e, sim, elas são criativas! Mas o medo de errar acaba desperdiçando talentos que existem dentro das companhias. Existem muitas manias, mesmo corporativas, de restringir possibilidades.
Primeiro precisamos acreditar que somos criativos e, depois, desbloquearmos algumas barreiras dentro das empresas, com ferramentas simples: investimento em talentos, autonomia para as pessoas, apostas em relacionamentos (pele com pele e não somente trocas online) e geração de pertencimento – que é o que mais motiva as pessoas a produzirem algo novo em suas posições.
Crédito Fotos: Eduardo Lopes