WDCD 2016: design pode ser a resposta para um mundo tão confuso

Ferramenta poderosa - senão primordial - para tempos complicados, o design é o encontro possível entre o belo e o útil, de equilíbrio, de soluções para um mundo complexo

Em sua edição de novembro, a revista norte-americana da Wired, publicação que talvez melhor traduza as transformações tecnológicas e sociais pelas quais passamos, contou com um editor convidado improvável: o presidente norte-americano Barack Obama. Mais do que ser “editor por um dia”, o presidente emprestou seu olhar privilegiado para sugerir histórias, indicar caminhos e discutir possibilidades de transformação para o mundo em que vivemos. O resultado é uma edição coesa, que se devora numa sentada só, repleta de histórias que giram ao redor de fronteiras – tecnológicas, sociais, políticas – que precisamos enfrentar para continuarmos indo além.

Ao terminar de ler a edição, sobretudo depois do resultado das eleições norte-americanas, é possível ver ali uma luz. Fica claro que apenas um mundo que saiba colaborar e trocar conseguirá seguir adiante em meio a tantas complexidades: superbactérias, cyberterrorismo, as tensões em fronteiras num mundo onde fronteiras são cada vez mais relativas.

Foi natural pensar no design como ferramenta de solução enquanto lia página após página da revista. Não porque o trabalho de designers ganhava espaço na Wired, mas pelo potencial silencioso que o design tem quando encarado como ferramenta de transformação do mundo. Essa é a filosofia que guia a curadoria e seleção de participantes do What Design Can Do, evento com edições em Amsterdã e São Paulo e do qual sou sócia no Brasil.

É natural aproximar aquilo que lemos do que vivemos, então não pude deixar de traçar paralelos entre as matérias da Wired e alguns dos assuntos que abordamos no WDCDSP: enquanto lia sobre remédios criados a partir de bactérias intestinais humanas, vinha à cabeça a discussão sobre os limites éticos da “biologia sintética”, trazidos ao palco do nosso evento ano passado por Daisy Ginsberg. Ao ler sobre jovens negros de regiões periféricas dos EUA que criaram um carro movido a biodiesel, imediatamente lembrei da criatividade vibrante da estilista senegalesa Selly Raby Kane, que se juntará a nós este ano para falar sobre seu processo criativo.

Poderia me alongar nos exemplos, mas prefiro destacar o mais importante aqui: o design é uma ferramenta poderosa – senão primordial – para tempos complicados. É uma mentalidade que nos ajuda a navegar entre montanhas de dados; a criar formas de nos comunicar a fim de atrair a atenção das pessoas nos diferentes polos ideológicos em que nos vemos divididos; a projetar cidades menos desiguais; a achar soluções para reduzir desperdício de alimentos num planeta cada vez mais cheio de pessoas; a renovar as instituições para fortalecer a democracia. É, enfim, uma ferramenta do encontro possível entre o belo e o útil, de equilíbrio, de soluções para um mundo complexo.

É esse o espírito que deve nos mover mesmo quando tudo parece dar passos para trás. É isso que nos motiva a trabalhar por meses para reunir um grupo de mil pessoas na FAAP, em São Paulo, para discutir caminhos, possibilidades e projetos. E inspirá-las a sair dali e criar seus próprios caminhos. A este mundo confuso, nossa resposta é o design.

* Bebel Abreu é sócia do What Design Can Do São Paulo 2016, que acontece nos dias 13 e 14 de dezembro na FAAP, em São Paulo, e abordará o impacto do design em áreas e temas como a questão dos refugiados, mobilidade urbana, arquitetura, moda e comunicação.

Para ingressos: acesse aqui.

Crédito Foto: Rodrigo Braga/Divulgação.