Estúdios de conteúdo redefinem modelos de negócio de publishers

Sem orientação para página dupla ou banner, unidades de branded content criam novas frentes para grupos de mídia, avalia Patricia Weiss, da Branded Content Marketing Association

Quando o júri da categoria Entertainment do Cannes Lions divulgou o vencedor do Grand Prix deste ano, a surpresa ficou mais por conta de quem criou o projeto do que para a ideia em si – que é muito boa.

Desenvolvido pelo T Brand Stúdio, unidade de branded content do The New York Times, The Displaced “levou” assinantes do jornal para o centro da crise dos refugiados na Síria e na Ucrânia por meio de uma experiência que une realidade virtual e mobile. Sem agência de publicidade envolvida no processo criativo, o NYT fez a lição dentro de casa, em um trabalho que uniu, na mesma equipe, jornalistas, engenheiros e videomakers.

Para analisar esse cenário, os resultados da categoria Entertainment e o que ele sinaliza ao mercado, conversamos com Patricia Weiss, fundadora e  chairman da Branded Content Marketing Association na América Latina.

GoAd Media – The Displaced  aposta em histórias lindas contadas por meio de uma experiência incrível. Tem escala e consistência. O que significa para o mercado  ter sido desenvolvido por um Publisher e não por uma agência?

Patricia Weiss – Significa o reconhecimento de uma incrível realidade. Os Content Studios estão redefinindo, com excelência e sem condicionamento orientado a mídia, o papel essencial do conteúdo editorial, independente da forma como é distribuído e consumido pela audiência: contar histórias relevantes para as pessoas. Um bom jornalista é um natural contador de histórias.

T Brand Studio, que é o Content Studio do NYTimes, tem desenvolvido projetos excelentes como esse que levou o Grand Prix, assim como o ousado Guardian Labs, The Guardian, e até seriado documental cria e produz como o “The Power of Privacy”, para a marca Silent Circle.

A VICE, desenvolve projetos incríveis há tempos para marcas do mundo todo, assim como vemos as marcas criando seus próprios Content Studios, como a precursora Red Bull, a GE, o Marriot Hotéis, que já produziu três short films, e por aí vai.

O poder de contar histórias humanas que criam valor é infinito e não é uma simples tendência. “The Displaced” é uma relevante história com amplo significado que afeta e comove as pessoas, baseada na realidade, com alto poder de envolvimento e engajamento, porque também sintonizou com tensões sociais vibrantes.

A audiência acompanha a trajetória de três crianças refugiadas do começo ao fim, em uma experiência diferenciada e mais imersiva. O Lions Entertainment pontuou algo importante para o mercado mundial com esse GP: Os Content Studios independentes não serão um departamento em uma agência de propaganda.

GoAd Media – Projetos robustos de marca, como o Nikewomen, da Widen+Kenedy, apostam na sequência de conteúdo produzido exclusivamente para o digital. Ele representa a real essência do branded content?

Patricia – Vivemos a coexistência das realidades das novas mídias com as tradicionais. Mas o Marketing Intrusivo is over. A audiência migrou do Prime Time para o My Time. Simplesmente escolhemos o que vamos consumir, onde, quando e quantas vezes. A audiência não tolera mais o que é intrusivo e interruptivo.

As marcas precisam assumir a revolução do marketing e se colocar (realmente) no lugar da audiência. Deixando para trás o marketing intrusivo e orientado a marca, onde ela diz e vende o que lhe interessa e só fala dela mesma, escolhendo então o marketing orientado a audiência: onde o herói e protagonista é a audiência, onde ela estiver. Não vivemos um momento do dia analogicamente e outro digitalmente. Somos uma sociedade mundial hiperconectada.

A audiência compartilha um conteúdo e conversa sobre ele se for interessante para ela. Não porque ele pertence a uma marca. O jogo mudou e isso é irreversível. Não é mais Product oriented mas sim People oriented.

https://www.youtube.com/watch?v=jqM-w1ptyAE

GoAd Media – Outro case que chama nossa atenção é o Billboard da Microsoft.  Construir experiências que podem depois ser viralizadas na rede é uma tendência para dar escala ao conteúdo?

Patricia – Acredito que a força desse projeto diz respeito a como a atenção e o tempo da audiência pode ser capturada hoje através de acontecimentos, shows, experiências que acontecem “live”, agora e em tempo real. Esse projeto é mais do que um painel vivo. É praticamente um Reality Show, com mecanismos de engate da audiência similares. É o poder da cultura participativa e de estarmos, como sociedade mundial, hiperconectados, reagindo no mesmo instante do fato, criando novas e contínuas proporções.

Daquele espetáculo que a audiência assiste acontecendo no billboard, surgem outros micro espetáculos criados e compartilhados pela audiência através de fotos e vídeos, intensificando assim a experiência do evento e representando uma realidade potente de conexão ao redor, das conversas não lineares.

https://www.youtube.com/watch?v=06qF7kZuKSo

Quem somos:

GoAd Media é a primeira rede brasileira colaborativa de conteúdo e conhecimento na área de comunicação marketing, que atua em três frentes: Editorial, Branded Content e In Company.