Cannes Insights: tecnologia deve valorizar a boa história em Entertainment

Presidente do júri, PJ Pereira diz que categoria vai buscar ideia que sinalize o futuro, mas destaca que conteúdo deve ser o principal critério para conceder Leões

Referência internacional no digital, o brasileiro PJ Pereira, cofundador e CCO da Pereira & O’Dell, tomou uma decisão importante em meados de 2016. Trabalhando com tecnologia desde 1989 e tendo conquistado diversos prêmios em festivais – entre eles, quatro GPs no Cannes Lions –, ele resolveu que não queria mais participar de júris voltados ao digital. “Estive em vários. Como a maior parte dos meus prêmios é dessa área, era um caminho natural me chamarem para essas premiações. Mas estou me aposentando de júris de tecnologia”, afirma PJ. Em sua visão, é hora de uma geração nova brilhar.

Por isso, a proposta de presidir o júri de Entertainment no Cannes Lions foi mais do que benvinda. De fato, ele havia sido sondado se gostaria de julgar cases de conteúdo e entretenimento em uma conversa do ano passado. Na nova categoria, PJ terá um desafio gigantesco porque o próprio branded content é continua a ser um grande desafio para as marcas, sobretudo neste cenário em que as empresas não estão competindo apenas uma com as outras. Elas disputam o tempo e a atenção do público.

Não é que a tecnologia não tenha seu valor. PJ recorda-se de um evento em San Francisco que abordava os 20 anos de Toy Story, primeiro longa-metragem feito 100% no computador (lançado em 22 de novembro de 1995). Em dado momento, Ed Catmull, autor do livro Criatividade S. A. – Superando as Forças Invisíveis que Ficam no Caminho da Verdadeira Inspiração, um dos fundadores da Pixar, pegou o microfone para falar da tecnologia por trás do sucesso da animação.

Ele também celebrou que uma extensa reportagem de capa da Entertaintment Weekly, de quatro páginas, havia dado um parágrafo inteiro para a tecnologia. Ter esse espaço já o deixara feliz. Sim, diz PJ, a tecnologia é importante, mas é por causa da história que uma obra se torna eterna. “Grandes clássicos do cinema, como O Mágico de Oz e Star Wars, tiveram uma tecnologia que, na época, era sensacional. Depois, elas ficaram ultrapassadas. Esses recursos serviram para tornar o filme diferente no mundo, porém no fundo o que fica é uma história incrível”.

O papel do júri será focar em grandes histórias. Um dos aspectos a ser analisado será o investimento de tempo para o desenvolvimento do case. Outro, o bom uso do dinheiro do cliente. Se a utilização de tecnologia valorizou um desses lados, ótimo. Mas, como PJ pontua, a categoria não se trata de inovação tecnológica.

No ano passado, o GP ficou com “The Displaced”, da VRSE Works, de Los Angeles, para o jornal The New York Times, em que um documentário sobre a vida de crianças refugiadas poderia ser assistido no formato de realidade virtual por meio do Google Cardboard.

O júri conta ainda com dois brasileiros: Marcelo Páscoa, diretor de marketing da Coca-Cola, e Ricardo Dias, vice-presidente de marketing Middle Americas da AB Inbev. Por ser presidente do corpo de jurados, PJ se diz numa posição delicada para falar de expectativas do Brasil. No ano passado, o país emplacou sete trabalhos no shortlist, mas não conseguiu nenhum Leão. Sobre tendências, ele é enfático: “em um júri bem focado, premiaremos o que fugiu da tendência. Vamos buscar a ideia nova, a que sinaliza o futuro. O case tem de ser tendência depois que sair de Cannes”.